Pela segunda vez, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, precisou lidar com horas de questionamentos no Congresso Nacional, feitos por parlamentares que, propositadamente, quiseram promover um verdadeiro circo ou, nas palavras do próprio ex-juiz da Lava Jato, um “teatro”.

Sérgio Moro já havia participado de uma sessão semelhante na Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal, em 19 de junho, pelo mesmo motivo: explicar sobre a divulgação ilegal de mensagens atribuídas a ele e ao coordenador nacional da operação Lava Jato, Deltan Dallagnol.

Assim como foi no Senado, na Câmara dos Deputados não poderia ser diferente. A presença de inúmeros investigados por corrupção, inclusive na própria operação Lava Jato, para questionar a conduta do ex-juiz que obteve fama internacional pelo combate à corrupção, foi sem dúvida uma das coisas mais deploráveis na história da política brasileira.

“Teatro” foi a palavra usada por Sérgio Moro para definir a conduta de alguns deputados, que além da encenação, também usaram de arrogância e falta de respeito para com o ministro que voluntariamente se prestou ao esclarecimento dos fatos envolvendo o seu nome e atuação.

Glauber Braga (PSOL-RJ): “Juiz ladrão”

Entre gritos estereotipados, expressões de ódio, insinuações caluniosas e tentativas de envolvimento familiar no motivo da reunião, o ministro Sérgio Moro precisou aguentar dos deputados opositores da Lava Jato o nível “baixo”, como ele mesmo se referiu, e até ofensivo de alguns, como o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), que em dado momento chamou o ministro de “juiz ladrão”.

“O senhor vai estar nos livros de história como um juiz que se corrompeu, como um juiz ladrão. A população brasileira não vai aceitar como fato consumado um juiz ladrão e corrompido que ganhou recompensa para fazer com que a democracia brasileira fosse atingida”, disse Glauber.

Comentando o episódio nesta quarta (03) em uma entrevista para a revista Veja, o parlamentar disse que “não retira uma palavra” do que disse, e que se for processado em um Conselho de Ética, como propuseram deputados do PSL, ele disse que terá “mais uma oportunidade de demonstrar a verdade e produzir provas para demonstrar que Moro é um juiz ladrão”.

Ao responder Glauber, Sérgio Moro desqualificou o parlamentar moral e intelectualmente, referindo-se a ele apenas como “isso”: “Acho que prestei informações, respondi, houve até alguns ataques, acho que a gente respondeu tudo. No final um deputado absolutamente despreparado, que não guarda o decoro parlamentar, fez uma agressão, umas ofensas que são inaceitáveis”, disse o ministro.

“E infelizmente se teve de encerrar a sessão e a culpa é desse deputado absolutamente despreparado, Clauber, acho, Glauber alguma coisa, sabe Deus lá de onde veio isso aí”, concluiu Moro (destaque nosso).

“Saco do tamanho de Marte”

O jornalista Milton Neves comentou a participação de Sérgio Moro na Câmara, destacando a enorme paciência do ministro ao lidar com os deputados revoltosos. “Nunca vi e jamais verei, mas o saco do Sergio Moro deve ser do tamanho de Marte, o Planeta Vermelho”, escreveu o jornalista em sua conta no Twitter.

De fato, a postura dos parlamentares contrários ao ministro Sérgio Moro vai muito além do que se espera de pessoas classificadas como “vossas excelências”. Gritarias, palavras de baixo calão, interrupções de fala aos milhares, ofensas e calúnias, apenas revelaram a diferença abismal de nível moral e intelectual desses em relação ao ex-juiz da Lava Jato.

Moro mais uma vez se mostrou sereno, equilibrado e preciso nas suas respostas. Provou ser capaz de lidar com o ambiente hostil e por vezes rasteiro do Congresso Nacional, enfrentando cara-a-cara pessoas que graças ao trabalho dele e da equipe de procuradores e juízes da operação Lava Jato, hoje são investigadas, processadas e também condenadas por corrupção.

Além de aula jurídica, Sérgio Moro deu ao Senado e à Câmara dos Deputados aulas de etiqueta, tolerância, confiança, coerência, justiça e discernimento, características que todos esperam enxergar no possível futuro presidente do Brasil.