Após confirmar que indicará o desembargador Kassio Marques Nunes para o Supremo Tribunal Federal, o presidente Jair Bolsonaro buscou argumentar, explicando que “qualquer um que eu indicasse estaria levando tiro”. Ocorre que o presidente erra feio em sua análise.

Bolsonaro se esquece que os seus apoiadores não são “qualquer um”. Eles são a base de sustentação do seu governo. Diferentemente da oposição, esta sim de quem todos esperam críticas, os apoiadores são o único motivo pelo qual o presidente não apenas foi eleito, como se mantém no poder.

É graças aos seus apoiadores que Bolsonaro tem condições de fazer frente, por exemplo, à avalanche de críticas que circula contra ele diariamente na grande imprensa, pois são essas pessoas que compartilham suas informações, buscando apurar a verdade e divulgá-la para todos.

Ser criticado pela oposição, portanto, é algo plenamente esperado e natural, mas isso muda completamente quando falamos de apoiadores, porque na prática isto significa a deterioração da sua base de apoio.

Qual seria a solução?

Ora, o grande receio de Bolsonaro certamente foi fazer a indicação de um nome que pudesse ser rejeitado pelo Senado. Todavia, se isto acontecesse, sendo a indicação um nome aceito por seus apoiadores, todos saberiam que a culpa não seria do presidente, mas sim da oposição.

Bolsonaro, mesmo tendo suas indicações rejeitadas, estaria isento de qualquer responsabilidade diante das críticas dos apoiadores, mantendo assim a sua base unida e intacta.

Mas, ao indicar um nome suspeito de contrariar os interesses da agenda conservadora e da direita, o presidente inverte a lógica do jogo político, pois atrai sobre si às críticas dos apoiadores em favor do elogio da oposição.

A solução seria fazer uma indicação 100% compatível com a causa conservadora, entregando nas mãos do Senado a responsabilidade de aceitar ou não a indicação. Caso fosse rejeitada, o presidente ainda teria a chance de alterar a sua escolha, mas estaria moralmente isento das críticas de sua própria base.

Indicação de Kassio Nunes para o STF seria “uma calamidade”, diz J.R Guzzo