Se tem uma palavra que pode ser usada para definir bem a política brasileira, esta é a “hipocrisia”. A falsidade, a dissimulação e todos os demais sinônimos relacionados se encaixam perfeitamente no que até hoje, infelizmente, ainda é a principal característica associada à figura do político comum.

Exemplo disso é o que estamos vendo acontecer neste exato momento, por causa das chuvas que atingiram 116 cidades das regiões sul e sudoeste da Bahia nas últimas semanas, deixando 21 mortos e até 54 mil desabrigados, além de um rastro de destruição envolvendo casas, comércios e edifícios públicos.

Ou seja, bairros e municípios foram realmente devastados pelas enchentes, fazendo com que 136 municípios declarassem estado de emergência. No total, direta ou indiretamente, cerca de 470 mil pessoas foram afetadas pela tragédia climática. E agora, o que fazer?

Ora, não faltam parlamentares supostamente “preocupados” com às vítimas da tragédia, cobrando a destinação de verbas públicas por parte do governo federal. Mas, será que esses mesmos paladinos da “causa humanitária” estariam dispostos a abrir mão do “fundão eleitoral” de quase R$ 6 BILHÕES?

Para o leitor ter uma noção do que esse montante absurdo representa, o deputado Marcelo Nilo (PSB-BA), representante da bancada de parlamentares federais baianos, afirmou durante uma entrevista para a Jovem Pan na quarta-feira (29) que a Bahia vai precisar receber R$ 2 bilhões, a médio e longo prazo, para reconstruir as 72 cidades atingidas pelas enchentes.

Ou seja, praticamente um TERÇO do fundão eleitoral já seria suficiente para restaurar CIDADES INTEIRAS, o que significa dizer vidas, uma vez que estamos falando da infraestrutura usada por pessoas que vivem e construíram uma história nesses locais.

Em outros termos, o dinheiro que em 2022 será literalmente “torrado” para fazer campanha eleitoral de partidos e políticos das mais diversas estirpes, é quase três vezes maior do que o valor necessário para tentar recuperar a vida de milhares de cidadãos baianos afetados pelas enchentes. Que tal?

Diante dessa lamentável realidade, a pergunta é: se o povo vem em primeiro lugar, e a causa “humanitária” está acima das diferenças políticas, não seria melhor abrir mão do fundão eleitoral, ou, no mínimo, boa parte dele, para socorrer o estado da Bahia?

Essa pergunta deve soar como o barulho de um tiro de calibre 12 nos ouvidos do político comum, pois a realidade nos prova que a distância entre o discurso, a prática e a politicagem medíocre vomitada quase diariamente nas redes sociais é abismal. Já sabemos a resposta: um cuspe na cara dos baianos ou, na melhor das hipóteses, o silêncio!