Já vazou para a internet a informação de que a ex-modelo Thammy Miranda fará parte da próxima campanha de Dia dos Pais promovida pela rede de cosméticos Natura, o que rapidamente gerou forte reação do público, fazendo com que até Gretchen saísse em defesa da filha.

Thammy Miranda, que por muitos anos foi um símbolo sexual masculino no Brasil, iniciou um processo de “transição de gênero” (popularmente também chamado de “mudança de sexo”) em 2014, quando fez cirurgias para a remoção dos seios e tratamento hormonal.

Hoje em um relacionamento com Andressa Ferreira, a modelo também fez um procedimento de fertilização in vitro nos Estados Unidos para poder engravidar, gerando assim o filho Bento, agora com 7 meses.

Homem ou mulher?

Ao convidar Thammy Miranda para a campanha de Dia dos Pais, a Natura reacendeu uma discussão que já dura anos e não possui qualquer consenso: pessoas que se identificam como sendo do sexo oposto podem ser consideradas, de fato, como do sexo oposto?

A discussão sobre este assunto vai muito além do que este texto seria capaz de abordar em tão poucas linhas, mas é fato óbvio que a concepção de “pai” ou do ser “homem” e “mulher” está atrelada aos determinantes biológicos da natureza humana, o que entra em choque com a visão dos ativistas LGBTs.

Neste sentido, não estamos falando de gênero, mas sim de sexo. Assim como não estamos falando de figura paterna ou maternas. Gêneros e funções são uma coisa. Definição sexual é outra.

O fato é que, na biologia, o conceito de pai não diz respeito apenas a uma função/figura, mas àquele que é parte com o outro sexo (feminino) na geração de um filho/vida. Em outras palavras: o pai é também um ser biológico, assim como a mãe.

Neste sentido, a psicóloga Marisa Lobo, que possui livros publicados sobre o assunto, fez a seguinte observação em sua rede social:

“Com todo o respeito a pessoa da Tamy, mas reduzir a função de pai, apenas a um gênero criado socialmente é um desrespeito aos homens. Não podemos ser pautados pelo o que uma minoria quer como sociedade.”

Em outras palavras, a psicóloga entende que o ser “pai” não é apenas uma função/figura, ainda que a função – paterna – componha e deva ser, socialmente falando, parte do que significa ser pai. Mas ela não é sozinha, por si só, o que define a paternidade.

É por isso que, neste sentido, ser pai não é apenas uma questão de gênero, leia-se: como alguém se enxerga. Observe que a crítica quanto a isso, portanto, não diz respeito à figura da Thammy, longe disso. A forma como ela se entende deve ser respeitada.

A crítica diz respeito à ideia implícita numa campanha que visa promover um conceito cientificamente equivocado sobre a paternidade, reduzindo-o ao mundo da subjetividade dos gêneros e das funções como se a paternidade não fosse, também, fruto de um determinante biológico.

Thammy exerce função paterna

A função paterna, bem como a figura do pai, estas sim não possuem relação determinante com o sexo biológico. Neste sentido, Thammy Miranda pode assumir a figura paterna, sendo aos olhos do seu filho um pai? Sim, pode!

O leitor atento e intelectualmente honesto, perceberá que já não estamos discutindo a natureza sexual de Thammy, nem como tal pessoa se enxerga. Biologicamente ela é do sexo feminino, não masculino, e isso é imutável.

Biologicamente, portanto, ela não é um pai, nem um homem exercendo paternidade. Biologicamente ela é uma pessoa do sexo feminino, o que faz dela uma mãe, mas exercendo a função de pai. Deu para entender? Entretanto, como ela se enxerga e se coloca parente o mundo, se pai ou mãe, homem ou mulher, isso é outra coisa.

É importante ressaltar também que não estamos discutindo o que representa esse modelo de paternidade aos olhos da criança. Esse é outro assunto, tão longo e complexo quanto o atual. A discussão central diz respeito à maneira como Thammy pode ou não se ver como pai, e neste caso a única maneira possível é a funcional/afetiva.

A própria ex-modelo se baseia nisso para se defender das críticas: “Pra mim, a maior representatividade não é só ser um pai trans, é ser um cara que eu realmente sou: um pai dedicado, que cuida, se preocupa, que está junto sempre, que dedica seu tempo”, disse Thammy ao IG.

Ou seja, a paternidade em questão diz respeito à função, a qual não é diferente da que é exercida por pais e mães adotivos. Mães que criam seus filhos sozinhas também, de certo modo, exercem a função paterna, assim como pais a função materna nas mesmas condições, salvo suas devidas proporções.

A decisão da Natura

Nesse mar de questões delicadas, o mais importante é a decisão da Natura. A Thammy Miranda, ao nosso olhar, é uma pessoa que foi exposta pela empresa de cosméticos às críticas da sociedade, quer boas ou ruins, o que é preocupante.

A figura de Thammy, no tocante ao ser humano, deve ser preservada de qualquer ataque depreciativo e incompreensivo, pois ela em sua vivência naturalmente vai ter um ponto de vista em sua defesa. A sua mãe, Gretchen, também.

A crítica neste caso diz respeito à Natura, que mesmo plenamente ciente da questão delicada, resolveu apelar para trazer à tona algo que não é fruto de pacificação nem mesmo na ciência, e que traz consigo uma série de problemáticas, inclusive de ordem familiar e psicológica, especialmente para o mundo infantil.

Ainda assim, a Natura tem o direito de tomar as suas decisões, assim como o público de reagir e criticar de forma positiva ou negativa, o que inclui o boicote aos seus produtos. São escolhas legítimas, tanto da empresa em querer apoiar a causa LGBT, como do público em rejeitar essa causa.