Está sendo noticiado na imprensa que o presidente Jair Messias Bolsonaro viajará aos Estados Unidos nesta quarta-feira (28), a fim de romper o Ano Novo em uma das propriedades do ex-presidente americano Donald Trump. Diante do cenário político nacional, a grande pergunta é: essa é uma decisão correta e honrosa?

Não importa o quanto Bolsonaro tenha seus méritos e mereça, de fato, descansar, pois o que estamos lidando no momento é com uma realidade completamente diferente, visto que milhares de pessoas estão há quase dois meses enfrentando sol, chuva e outros riscos, tudo como forma de demonstrar apoio ao presidente.

São pessoas que abriram mão de estar com suas famílias e do conforto de suas casas, inclusive da própria segurança, para manifestar apoio ao presidente. Algumas sofreram perdas pessoais, foram multadas e até presas. Outros, agora, estão sendo chamados de “terroristas”.

Não venham dizer que essas pessoas estão tendo esse esforço apenas agora. Bolsonaro vem recebendo apoio de milhões de brasileiros há anos, sempre em circunstâncias difíceis. Milhões foram às ruas por dois anos seguidos, por exemplo, no 7 de setembro, sempre acreditando nas palavras do presidente, entre as quais está um “acabou, porra!”.

Milhares e milhares foram em incontáveis “motociatas” Brasil a fora, também demonstrando apoio a Bolsonaro no decorrer do seu mandato, lhe acompanhando enquanto era criticado e alvo de ações constantes da oposição. Não há, portanto, qualquer argumento que seja capaz de minimizar a parte da população.

Ou seja, o povo cumpriu, sim, o seu papel. Não há o que contestar nesse sentido. Assim como Bolsonaro resistiu e fez a sua parte, a população também, e isso de forma reiterada, como dito anteriormente, através de inúmeras manifestações nas ruas e pelo imenso apoio nas plataformas sociais.

Mais do que irresponsável

Em nenhum momento devemos pensar que Bolsonaro tem, ou teria, o dever de fazer milagres. A cobrança quanto ao presidente não diz respeito a ele fazer o que muitos acreditam que ele deveria fazer, mas de ter a responsabilidade de ser claro o suficiente para com o seu povo, no sentido de não deixá-lo sofrer desnecessariamente.

Isto significa, que, se Bolsonaro sempre soube desde o fim da eleição que não seria capaz, ou não poderia, corresponder positivamente ao que os manifestantes estão pedindo nas ruas, ele deveria ter a consciência de vir a público o quanto antes, a fim de deixar isso claro para as pessoas.

Uma vez que a população soubesse qual é a real posição do presidente, ficaria a critério de cada manifestante continuar ou não nas ruas, e isto sem falsas expectativas, mas tão somente por uma decisão pessoal e consciente da realidade.

Contudo, em vez disso, tudo o que Bolsonaro fez ao longo desses quase dois meses foi alimentar a expectativa dos manifestantes através do seu silêncio e de publicações dúbias, algumas com evidente tom de provocação, dado o contexto político do país.

Nada, portanto, absolutamente nada, justificará a postura que Bolsonaro assumiu ao longo desse tempo, se o desfecho de tudo isso for uma viagem de férias para os Estados Unidos, enquanto o seu maior inimigo político assume o poder no Brasil sob os olhares de mulheres, homens e crianças exaustos em frente aos quartéis do Exército Brasileiro.

Reitero que não se trata de esperar do presidente uma resposta positiva no tocante ao pedido dos manifestantes. Se trata de entender que um líder, ainda chefe da Nação, tem a obrigação de vir a público para orientar os seus apoiadores, dando a eles um norte para seguir ou não. Bolsonaro não fez isso e nada indica que fará.

Se a viagem aos EUA se confirmar como a imprensa tem dito, e Bolsonaro sair do Brasil sem falar diretamente com o seu público restando poucas horas para a posse de Lula, ele estará sintetizando mais do que uma postura irresponsável: sintetizará, também, a postura de um covarde.