O presidente Jair Bolsonaro discursou para um grupo de manifestantes na tarde de hoje (9), em frente ao Palácio da Alvorada, quebrando um silêncio de 40 dias após o fim da eleição em 30 de outubro passado. Diante das suas palavras, porém, o que podemos extrair de importância para o país?

Primeiro: Bolsonaro passou longe de frustrar os seus apoiadores, algo que ficaria evidente se ele reconhecesse a sua derrota eleitoral, mesmo que indiretamente. Em vez disso, o presidente manteve uma postura de inconformidade, chegando a dizer que as eleições não ocorreram em condições “normais”.

Segundo: Bolsonaro não fez qualquer questão de mandar os apoiadores para as suas casas, nem mesmo indiretamente. Pelo contrário, ele incitou a continuidade dos protestos dizendo que cada um deve avaliar o que pode ou não fazer pelo Brasil.

Se o presidente quisesse jogar um balde de água fria nos protestos, aconselharia o povo a ir embora, e poderia ter feito isso direta ou indiretamente, deixando nas entrelinhas que ele mesmo já teria tomado a decisão de reconhecer o resultado proclamado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mesmo que discordasse. Mas isso não aconteceu.

Terceiro: Bolsonaro voltou a exaltar o papel dos militares, garantiu que eles estão unidos e devem ser leais à população. “As forças armadas são o último obstáculo para o socialismo. Tenho certeza que estão unidas. Devem lealdade ao povo e respeito à Constituição. E são responsáveis pela nossa liberdade”, disse o presidente.

O que extrair?

Em seu discurso, Bolsonaro não diz que tomará qualquer medida contra a eleição de Lula, mas também não nega tal possibilidade. Não é possível saber, portanto, o que exatamente o presidente tem pensado ou vem planejando, mas podemos dizer com segurança que a sua posição quanto à eleição continua sendo a de contestação.

Isso faz parecer que Bolsonaro está aberto às possibilidades, e que estaria, desde então, avaliando “alternativas” – expressão usada por ele mesmo durante o discurso – em sua mesa, inclusive a do uso militar, já ele fez questão de destacar a unidade das Forças Armadas e a sua função como “chefe supremo”.

Além disso, em dado momento, já para o final do discurso, o presidente também deu a entender que já teria alguma decisão tomada, pois ele fala categoricamente que “vamos vencer”, e que “tudo dará certo no momento oportuno”.

É possível que o presidente tenha quisto se referir ao futuro, talvez, no sentido de que em algum momento voltará mais forte. Porém, considerando o contexto e o pedido dos manifestantes em seus ouvidos, essa não parece a interpretação mais coerente, restando a opção de que ele falou a respeito do momento atual.

A conclusão disso é que Bolsonaro reforça, sim, a expectativa dos seus eleitores, especialmente pelo fato da quebra do seu silêncio nesse momento, a três dias para a diplomação de Lula pelo TSE no dia 12, parecer ter sido muito bem pensada e proposital, como se quisesse dizer ao Brasil que “nada está perdido” – o que realmente disse! Confira o discurso completo, abaixo: