Uma nova polêmica envolvendo o ministro da Economia, Paulo Guedes, está circulando nas principais manchetes da grande mídia desde a última quarta-feira (12). Se trata de uma declaração feita por ele sobre o valor baixo do dólar, anos atrás, o que estaria permitindo que “até empregada doméstica” fosse para a Disney.

Como de práxis, a grande mídia em sua maioria opositora ao atual governo publicou manchetes com recortes da declaração, fazendo o leitor entender que o ministro teria feito uma declaração preconceituosa contra às empregadas domésticas, ou especificamente os mais pobres.

Entretanto, ao ouvir a fala completa de Paulo Guedes é perfeitamente possível compreender a lógica do seu raciocínio, a qual não tem qualquer relação de preconceito com os pobres, se tratando apenas de uma ilustração acerca dos fatores negativos do preço do dólar muito baixo à luz da economia nacional. Veja a transcrição completa abaixo:

“Não tem negócio de câmbio [dólar] a R$ 1,80. Vamos exportar menos, substituição de importações, turismo, todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para Disneylândia, uma festa danada. Pera aí. Pera aí, pera aí. Vai passear ali em Foz do Iguaçu, vai passear ali no Nordeste, está cheio de praia bonita. Vai para Cachoeiro do Itapemirim, vai conhecer onde o Roberto Carlos nasceu, vai passear o Brasil, vai conhecer o Brasil. Entendeu? Está cheio de coisa bonita para ver“, disse o ministro.

Prevendo que a sua fala seria retirada do contexto, o próprio Paulo Guedes fez questão de explicar na sequência o sentido correto da sua declaração, enfatizando a desvantagem econômica para o Brasil no caso do dólar muito baixo. Observe:

“Antes que falem: ‘O ministro diz que a empregada doméstica está indo para a Disneylândia’. Não. O ministro diz que o câmbio estava tão barato que todo mundo estava indo para a Disneylândia, até as classes mais baixas”, explicou.

“Todo mundo tem que ir para a Disneylândia conhecer um dia, mas não 3, 4 vezes por ano. Porque com dólar a R$ 1,80 tinha gente indo 4 vezes por ano. Vai 3 vezes para Foz do Iguaçu, Chapada Diamantina, conhece um pouquinho do Brasil, vai ver a selva amazônica. E na 4ª vez, você vai para a Disneylândia, em vez de ir 4 vezes ao ano”, completou o ministro.

Em outras palavras…

O raciocínio de Paulo Guedes foi puramente econômico. Ao utilizar as empregadas domésticas como exemplo, ele não quis dizer que os “pobres” não têm o direito de ir para a Disney, mas apenas que com o dólar muito baixo o turismo exterior fica tão atrativo que até às classes mais baixas deixam de investir no Brasil, o que é ruim para a economia do país.

Neste sentido, o exemplo não poderia ser outro, pois se a intenção foi ilustrar que o dólar muito baixo se torna uma facilidade, um atrativo de investimento NO exterior até para os mais pobres, é óbvio que ele não poderia utilizar os ricos como exemplo, visto que os ricos já viajam para a Disney mesmo com o dólar alto.

Economicamente falando, é melhor para o Brasil o dólar mais alto porque isso favorece o turismo interno. Não se trata de julgar classes sociais ou quem pode ou não viajar para a Disney, mas tão somente de avaliar o que é melhor para o país em termos econômicos.

O que Guedes enfatizou, portanto, foi a necessidade de um dólar que favoreça a economia nacional, e neste sentido o valor mais alto é sim um benefício, pois em vez de impulsionar a saída para o exterior, ele aquece os mercados internos, inclusive atraindo o turismo estrangeiro.

Isso torna mais difícil a viagem ao exterior para os mais pobres? Sim, torna, mas a intenção ao se defender esse tipo de câmbio não é que os pobres sejam afetados, e sim que o país inteiro saia ganhando com o aquecimento da economia local, o que consequentemente beneficia, também, os mais pobres, que podem assim evoluir economicamente.