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Um alerta: “suicídio por contágio” é real e está sendo estimulado pela mídia

Em meio à tragédia do aumento de casos de suicídio no mundo, algo me preocupa muito como psicóloga: a estimulação não intencional, mas suficiente para promover o chamado “suicídio por contágio”.

Suicídio por contágio é um fenômeno real e preocupa o mundo inteiro. Vou tomar como exemplo o caso do pastor Jarryd Wilson, líder de uma megaigreja nos Estados Unidos, casado e pai de duas crianças, que tirou a própria vida esta semana.

No mesmo dia do suicídio do pastor Wilson, ele disse no Twitter “que estava oficiando o funeral de uma mulher que havia morrido por suicídio”. Notem o tamanho da gravidade escondida neste cenário! Se trata de algo que não vi nenhum profissional notar ou chamar atenção: o pastor Wilson pode ter cometido o suicídio por “contágio”. Como funciona nesses casos? 

O “suicídio por contágio” ocorre quando uma pessoa que já possui alguma vulnerabilidade emocional tem contato com outras ou situações que estimulam ou despertam nela pensamentos suicidas. Não se trata, portanto, de uma coisa automática, mas gradual e dependente de um contexto.

O pastor Wilson já sofria de depressão, segundo informações do também pastor Greg Laurie, da Harvest Christian Fellowship Church, igreja na qual Wilson, por incrível que pareça, atuava como conselheiro de saúde mental.

Observe que Wilson foi para uma cerimônia fúnebre de uma mulher, hora antes de tirar a sua vida. É muito provável que se Wilson não tivesse ido ao velório de Kay, ele estaria vivo neste momento.

Não podemos romantizar ou glamourizar a morte, como o suicídio, em nenhum momento, e isso muitas vezes ocorre quando ouvimos pessoas amenizando a gravidade do ocorrido com palavras muito suaves, relativizando o fato até mesmo do ponto de vista moral.

Tais pessoas, certamente por não saberem lidar com o ocorrido, falam coisas que fazem parecer que o ato suicida é “compreensível”, mas não em termos apropriados, e sim no sentido de complacência com a ideia implícita de que o suicídio seria uma alternativa “justa” de escape para pessoas em situação de sofrimento emocional profundo.

Precisamos rechaçar qualquer impressão a esse respeito, pois tais palavras e insinuações (mesmo não intencional), terminam reforçando na mente de uma pessoa em situação de vulnerabilidade a ideia de que o suicídio seria, sim, uma forma “honrosa”, “justa” ou “aceitável” até mesmo diante de Deus para lidar com os problemas. Não é!

É normal que a família, por causa da dor, se apodere de mecanismos de defesa para minimizar, racionalizar, intelectualizar e até romantizar o suicídio, mas isso só contribui para o contágio de outras pessoas. Outra maneira de acionar esse gatilho de ideal suicida em outros é a maneira como divulgamos novos casos.

É necessário entender que podemos e devemos falar, mas a forma como falamos também pode servir de contágio para pessoas em vulnerabilidade. Aos religiosos, deve-se evitar procurar associar a imagem de um Deus tolerante para com o suicídio. É um erro grave fazer afirmações que transmitem essa impressão.

Não devemos divulgar detalhes, métodos, palavras deixadas antes da morte como cartas, pois isso estimula a romantização do suicídio, especialmente na mente dos mais jovens. Crianças e adolescentes apresentam casos de suicídio alarmantes e boa parte disso é por causa da glamourização da morte nas telas do cinema.

A complexidade do suicídio

O suicídio é um fenômeno complexo, multifatorial e não decorre de uma causa única. A mídia desempenha um papel significativo para determinar percepções do público sobre o tema visto que influencia atitudes, crenças, visão de mundo, potencializando comportamentos, gerando impactos na sociedade.

O suicídio por contágio também pode ser associado ao chamado “efeito Werther”, que se refere a um pico de casos de suicídios depois de um suicídio amplamente divulgado. Na ausência de fatores de proteção, o suicídio publicizado serve como um gatilho para o próximo suicídio por uma pessoa suscetível ou sugestionável.

Por isso é fundamental que todos entendamos que o suicídio é uma morte evitável e que a depressão e muitos transtornos podem ser curados ou mesmo controlados, mas para isso é importante aprendermos sobre os riscos desse “contagio”, a fim de evitar lidar de forma errada com os impactos emocionais danosos decorrentes da morte.

Uma palavra de fé

Temos a obrigação como pessoas de fé, especialmente os cristãos que são maioria em nosso país, mas também como seres humanos, de lutar com toda nossa força e entendimento para sermos um canal de benção na vida das pessoas, uma canal de transformação. Podemos sim ajudar, acolher, ouvir um desabafo, simplesmente dizer “eu estou aqui” para o que precisar, você não está só.

É incrível o que um abraço, uma palavra amorosa pode fazer, assim como e é diabólico o que uma palavra maldita pode desencadear na mente de uma pessoa que já está fragilizada. Pense nisso: a palavra tem poder, o amor e o afeto também.

Deus nos chama para viver em amor. Isso significa que precisamos amar às pessoas à nossa volta. Nem sempre isso é fácil, a pessoa depressiva é muito diferente de nós. Ela sofre, é um sofrimento que não entendemos, mas uma coisa podemos compreender que o nosso amor a essas pessoas, nossa paciência, nossas orações, podem transformar essa pessoas. O amor cura, sara e liberta.

“Amados, amemos uns aos outros, pois o amor procede de Deus. Aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus.” (1 João 4:7) 

ERRATA:

Foi mencionado no texto que o pastor Wilson havia ido ao funeral da esposa do pastor Rick Warren, que supostamente havia cometido suicídio. No entanto, essa informação foi equivocada e por isso já foi corrigida e retirada do texto. 

Marisa Lobo
Marisa Lobo é psicóloga clínica, autora de vários livros, especialista em saúde mental e conferencista. Há anos realiza palestras dentro e fora do Brasil sobre prevenção e o enfrentamento das drogas, depressão e suicídio, sendo conhecida também pela luta contra o ativismo ideológico de gênero, aborto e desconstrução familiar.
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