Antes de receber o título de cidadão honorário de Paris, na França, Lula conversou com um jornal suíço durante a sua viagem, onde teve a oportunidade de comentar sobre a situação política do Brasil e também a atuação da esquerda dentro e fora do país.

Na ocasião, Lula reconheceu que a esquerda mundial sofreu derrotas porque perdeu a narrativa. “Nós perdemos o discurso e em alguns lugares começou a se usar a palavra ajuste fiscal e o Estado é muito pesado, é preciso abrir o Estado”, disse ele.

“E o Estado ao invés de se transformar numa coisa cada vez mais forte, pública, se transformou cada vez mais numa coisa mais fraca privada. Então eu acho que a esquerda tem que reconstruir o seu discurso, e por isso que eu estou botando a questão da desigualdade como um tema prioritário”, completou.

Segundo a perspectiva apresentada por Lula, portanto, modelos econômicos socialistas, como os da Venezuela e Cuba, onde o Estado é mais forte que o setor privado, seriam bons exemplos para a esquerda mundial, e não o contrário, onde a iniciativa privada é mais forte.

Não é por acaso que o condenado pela Lava Jato defendeu, na mesma ocasião, o ditador venezuelano Nicolás Maduro, o qual deixou de ser reconhecido por diversos países, entre eles o Brasil, como o presidente legítimo da Venezuela.

“Eles [Estados Unidos e Europa] não poderiam ter reconhecido um farsante que se autoproclamou presidente [Juan Guaidó]. Não é correto, porque se a moda pega a democracia é jogada no lixo e qualquer picareta pode se autoproclamar presidente, sabe”, disse Lula.

Lula ignora o fato de que Guaidó, na verdade, não se “autoproclamou” presidente. Ele foi reconhecido com base no art. 233 da Constituição da Venezuela, o qual prevê a nomeação do presidente da Assembleia Legislativa do país em situações de ingovernabilidade, segundo a Gazeta do Povo.

Para Lula, no entanto, Maduro é um exemplo de iniciativa democrática. “Eu poderia agora me autoproclamar presidente do Brasil, sabe, mas e a democracia, onde vai? E a Constituição, vai para lixo? Então, veja, você percebe que quem está tomando a iniciativa de conversar é o Maduro não é o Guaidó”, disse ele, segundo o Congresso em Foco.