A entrada do ex-ministro Sérgio Moro para a consultoria norte-americana Alvarez & Marsal indica algo que vai além da mera questão empregatícia. Ela aponta que o homem que foi o maior ícone da Operação Lava Jato parece estar, agora, profissionalmente confuso após a sua saída do governo Bolsonaro.

A quantidade de mudança – ou acúmulo – de ocupação em tão pouco tempo sinaliza isso. Primeiro, vazamento de prints de conversas pessoais, chegando a publicar (ensaiar?) um artigo para O Globo, negando posteriormente que teria sido contratado.

Depois, no entanto, vira colunista da Crusoé. Na sequência, é contratado como professor em centro universitário de Brasília. Agora, diretor na Alvarez & Marsal. Tudo isso em cerca de 7 meses!

Moro, sem rumo?

Essa tese também se baseia na seguinte questão: será mesmo que, em condições normais, Moro aceitaria ser o chefe de investigações de uma empresa que atua como administradora judicial do Grupo Odebrecht, empreiteira que já foi condenada por ele mesmo, principal nome da Lava Jato no que diz respeito à corrupção?

Mesmo que a natureza do cargo e dos serviços prestados pela Alvarez & Marsal à Odebrecht não caracterizem conflito de interesse no tocante à esfera judicial, eticamente falando a figura de Sérgio Moro, distante no imaginário coletivo de qualquer envolvimento com grupos suspeitos de corrupção, jamais correria o risco de ter a sua reputação posta sob suspeita por causa de um emprego.

Aliás, um bom exemplo disso são as justificativas que foram apresentadas pelo próprio Moro ao sair do governo Bolsonaro, em 24 de abril passado. Ele alegou exatamente que, entre outros, não arriscaria a sua “biografia” por causa de uma gestão que estaria, supostamente, tentando interferir na Polícia Federal.

Ora, acontece que nenhuma das acusações feitas por Moro contra o presidente foram comprovadas até hoje. Pelo contrário, o seu processo acabou fortalecendo a imagem de Bolsonaro perante a opinião pública, após a revelação do tão polêmico “vídeo da reunião ministerial“, ocorrida em 22 de abril.

Expectativa fracassada

É possível que Moro tenha criado grande expectativa ao sair do governo, acreditando que devido ao prestígio do seu nome conseguiria amplo apoio popular ao fazer acusações contra o presidente Bolsonaro, o que lhe permitiria pavimentar a sua campanha para 2022.

Diante da expectativa fracassada, porém, e do fortalecimento da popularidade de Bolsonaro, bem como das suas denúncias contra o presidente caindo em total descrédito por falta de materialidade, o ex-ministro parece ter ficado “sem rumo”.

O que teria restado para Sérgio Moro de mais contundente seria a força do seu nome para 2022, algo que foi definhando à medida que o ex-ministro se pronunciava politicamente, revelando uma narrativa que deixou claro para a população os seus interesses políticos, ainda que não confessados.

Estratégia do silêncio

Diante deste cenário, é possível que Moro tenha decidido aceitar a proposta da Alvarez & Marsal para implementar a “estratégia do silêncio”, que nada mais é do que se afastar um pouco dos holofotes midiáticos e da opinião pública, ganhar um bom salário e aguardar o desenrolar dos fatos até 2022.

Entretanto, se essa foi/é a sua intenção, mais uma vez ele parece ter dado um “tiro no saco”, como disse o senador Major Olimpio, visto que a escolha não soa eticamente favorável para o ex-juiz da Lava Jato.

Em outras palavras, é a confirmação de que Moro parece mesmo estar tentando se reinventar, se encontrar no meio do caos político-midiático que, em parte, foi provocado por ele mesmo, mas que agora tem lhe deixado confuso e mais perdido do que cego em de tiroteio.

Moro entra para grupo que serve à Odebrecht, condenada por ele mesmo: “Tiro no saco”