O jornalista Rodrigo Constantino acabou de anunciar que está “fora da Jovem Pan”, após sofrer uma série de críticas por comentários sobre o caso do “estupro culposo”, termo que ficou conhecido depois que o site The Intercept Brasil divulgou detalhes do julgamento a blogueira Mariana Ferrer.

Constantino comentou a percepção da defesa do empresário André de Camargo Aranha, acusado de ter estuprado Ferrer em dezembro de 2018. Segundo o Ministério Público, André teria violentado a jovem, na época com 21 anos, durante uma festa em um beach club em Jurerê Internacional, em Florianópolis.

O advogado de André, no entanto, alegou que o empresário não estuprou Ferrer, dando a entender que ele teve relações com ela, mas com o consentimento da jovem. Ela, por sua vez, alega que acredita ter sido drogada e por isso não lembra do que aconteceu.

Constantino se complica

Ao comentar a polêmica sobre o termo “estupro culposo”, criado pelo Intercept Brasil, Constantino, no entanto, acabou fazendo um comentário que deu a entender que estaria justificando o possível ato de estupro pela própria escolha da jovem em supostamente fazer uso de substâncias e ainda resolver se relacionar com alguém.

“Não entrei na polêmica do ‘estupro culposo’ pois estava atento às eleições americanas. Mas vamos lá: se alguém ESCOLHE beber e ESCOLHE, bêbado, pegar um carro e dirigir, e mata alguém, é crime DOLOSO, certo? Então por que essa desculpa de que a mulher bêbada não é responsável?”, questionou o jornalista.

“Quem responde na afirmativa, quem diz que ‘sim’, que ela bêbada, não sabia do que estava fazendo e portanto era inimputável, precisa, por coerência, dizer que não é crime se ela pegar num volante de um carro. Afinal, ela ‘não é responsável por seus atos após bebida’…

Para quem AINDA não entendeu meu ponto central, estou tentando cobrar mais RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL de quem ESCOLHER tomar um porre. Já fazemos isso quando o assunto é direção automotiva. Que tal estender para os demais ATOS individuais? Eu não suporto vitimismo…”, completou Constantino.

Diante da repercussão dos seus comentários, Constantino ainda gravou um vídeo para tentar explicar melhor o seu ponto de vista, mas acabou piorando ainda mais a sua situação, visto que não soube diferenciar a responsabilidade individual de cada pessoa envolvida num contexto como esse.

Em outras palavras, o jornalista transmitiu a ideia de que a vítima de estupro pode ser responsável pela agressão se, supostamente, der a chance de ser estuprada em estado de vulnerabilidade. Ocorre que nada justifica o erro, neste caso um crime cometido por outra pessoa, diante de alguém em estado de vulnerabilidade.

Outra explicação

Em outra publicação, no entanto, Constantino tentou se justificar melhor, dizendo que os seus exemplos levaram em consideração a mulher estando consciente o suficiente para consentir a relação sexual.

“Se eu estou justamente questionando se É estupro quando uma mulher, bêbada, CONSENTE em fazer sexo, como a IMBECIL MAU CARÁTER diz que fiz apologia ao estupro?!”, disse ele ao rebater uma crítica.

Neste caso em tela, a hipótese levantada pelo jornalista (e pela defesa de André) é se a mulher que diz ter sido vítima de estupro teve, na verdade, uma relação consensual, talvez até influenciada pelo efeito de substâncias, mas de forma que aparentou consentir com a relação.

Ou seja, só depois de ter praticado a relação sob influência de substâncias a mulher teria “caído em si” e percebido que se envolveu num ato sexual consensual que não teria aceitado se estivesse em condições normais de sobriedade.

Neste caso, à acusação de estupro, de fato, seria um equívoco. Essa é a linha de raciocínio da defesa de André e acreditamos que foi esse o raciocínio que Constantino tentou expressar, mas não conseguiu de forma suficientemente clara inicialmente.

Demissão de Constantino

Apesar das explicações, Rodrigo Constantino não conseguiu ser claro o bastante e fez declarações infelizes, transmitindo uma ideia equivocada sobre a relação vítima/estuprador, de modo que isso acabou gerando uma onda de críticas que resulto em sua demissão da Jovem Pan.

“Vera Magalhães marcou a Jovem Pan pedindo novamente minha cabeça por ‘limites éticos’, já que eu teria feito ‘apologia ao estupro’. Essa demente passou dos limites e terá de responder na Justiça. Mulher amarga, nojenta, MENTIROSA

Feministas amargas lutam pelo ‘direito’ de tomar todas num quarto com homens, CONSENTIR em fazer sexo bêbada, e depois bancar a vítima de estupro, sem aceitar ainda a OPINIÃO dos outros de que tem comportamento indecente. Afinal, sabemos que indedentes só os homens, né? Dureza… [sic]

Uma amiga próxima, que SABE quem sou e como sou como pai e marido, mandou msg dizendo que alguns podem ter entendido, fora do contexto, que eu falei no caso de minha filha ser ABUSADA. Não! Eu falei no caso de CONSENTIR BÊBADA, com quem estava ficando. Basta ouvir novamente…

Vcs venceram uma batalha, parabéns! A pressão foi tão grande sobre a Jovem Pan, DISTORCENDO CLARAMENTE MINHA FALA, que não resistiram. Não os culpo. É do jogo. Quem me conhece e quem viu de fato sabe que eu jamais faria apologia ao estupro! Mas desde já estou fora da Jovem Pan [sic]”, conclui Constantino.