Em uma guerra de narrativas sobre os reais interesses envolvendo a “proteção” da Amazônia, a verdade só vem à tona através dos fatos, nada além dos fatos. Enquanto ONGs e outros países acusam o Brasil de não proteger seu meio ambiente, o governo Bolsonaro rebate, dizendo que tais acusações são, na verdade, frutos dos interesses nas riquezas nas terras brasileiras, especialmente em seu subsolo, rico em minério.
Assim como publicamos dias atrás uma matéria mostrando que a Alemanha é o país mais poluidor da Europa, já tendo sofrido punições em 2018 por contaminação das águas na região, dessa vez trazemos outra matéria, agora sobre a Noruega, mostrando que o país é o principal acionista de uma mineradora, acreditem… no Pará, região amazônica, onde fica localizado o Parque Nacional da Amazônia.
Como se essa constatação por si só já não fosse suficiente para confirmar a tese do governo brasileiro, com relação aos reais interesses internacionais na Amazônia, a Noruega, um dos países mais críticos do Brasil no tocante às questões climáticas, enfrenta quase 2 mil processos judiciais sob a acusação de contaminar rios e comunidades no município de Barcarena, a 40 quilômetros de Belém.
Isto posto, colocamos abaixo a matéria completa, publicada originalmente pelo portal russo Sputnik no ano de 2017, acompanhe:
“Dois pesos e duas medidas. Se por um lado o governo da Noruega fez duras críticas na semana passada ao Brasil devido ao aumento do desmatamento na Amazônia, por outro lado o governo da Noruega se contradiz por ser o principal acionista da mineradora Hydro, que é alvo de denúncias no Ministério Público Federal (MPF) do Pará.
A produtora de alumínio, cujos 34,3% das ações pertencem ao governo norueguês, enfrenta quase 2 mil processos judiciais sob a acusação de contaminar rios e comunidades no município de Barcarena, a 40 quilômetros de Belém. A região é uma das mais poluídas da floresta amazônica, em virtude do crescimento industrial desenfreado na região.
Responsável por assinar uma ação civil pública movida em 2016 contra o derramamento de lama da bacia de rejeitos da Hydro, o procurador da República no Pará, Bruno Valente, disse em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil que o histórico de acidentes ambientais em Barcarena é impressionante – uma média de pelo menos um por ano.
“Temos uma atuação na região há algum tempo, relativa aos impactos da atividade industrial no município de Barcarena. A Hydro é um dos atores envolvidos. Houve um episódio de transbordamento de rejeitos, em 2009, que poluiu vários lugares do município. A recente ação cobra a Hydro e outras indústrias pelo derramamento de metais pesados na água que as pessoas consomem”, afirmou.
Através da Hydro, o governo da Noruega é acionista majoritário de duas mineradoras na região: a Albrás, que produz alumínio a partir da Alumina (óxido de alumínio), e a Alunorte, que é responsável pelo processo de obtenção da alumina a partir da bauxita, ambas compradas da Vale, que ainda é a acionista minoritária.
A Hydro é acusada pelo Ministério Público do Pará de não pagar as multas que já foram estipuladas pelo Ibama que totalizam R$ 17 milhões, depois do transbordamento de lama tóxica em rios da cidade por uma de suas subsidiárias, a Alunorte, que aconteceu em 2009 e que, de acordo com o Ibama, foi responsável pela mortandade de peixes e de grande destruição da biodiversidade local, além de colocar a população em risco.
O valor das multas parecem pequenos diante dos R$ 200 milhões que Oslo cortou para os repasses do Fundo Amazônia deste ano. Segundo o governo norueguês, o crescimento do desmatamento na floresta impediu que metas contratuais fossem atingidas, justificando assim o corte do montante, que vinha sendo ampliado desde 2009.
Desde o transbordamento há oito anos, a Hydro não aceita a imputação de culpa pela contaminação registrada na região de Barcarena. Contudo, testes realizados pelo Laboratório de Química Analítica e Ambiental da Universidade Federal do Pará (UFPA) concluíram que a água consumida pela população de 26 localidades do município está contaminada por metais pesados, e nada foi feito até hoje para reverter esse quadro.
“A Hydro culpou as fortes chuvas da época e todos os órgãos refutaram essa alegação. Isso não exime a empresa dos impactos causados e não houve compensação até hoje. Ela tem a responsabilidade objetiva, mesmo que não tenha havido dolo. A empresa deve responder pelos impactos ambientais”, avaliou o procurador Bruno Valente.
Além de penalidades à empresa e indenização às famílias de 26 comunidades da região, a ação do Ministério Público paraense ainda busca garantir acesso à água potável. A preocupação é justificada: um em cada cinco moradores examinados em testes da UFPA onde estão as empresas norueguesas apresentam contaminação por chumbo, sendo uma concentração no corpo sete vezes maior do que a média mundial.
A presença de chumbo no organismo pode causar graves doenças nos sistemas nervoso e respiratório, além de problemas no coração e efeitos no desenvolvimento cognitivo de crianças. Assim, o procurador não tem dúvidas de que os moradores precisam ser indenizados, já que sofreram impactos na sua saúde e também na sua tentativa de sobrevivência.
“Nas reuniões com a comunidade de Barcarena as queixas são muito grandes. Além dos problemas de saúde, as atividades de subsistência foram prejudicadas, como a pesca, a coleta do açaí, e as árvores e plantações não produzem mais o que costumavam produzir”, explicou o procurador.
Por enquanto, a única vitória obtida pelo Ministério Público foi o compromisso assumido pelo governo do Pará em cobrar um monitoramento das empresas sobre os níveis de contaminação da água e do ar nas áreas onde possuem atividades. Bruno Valente afirmou que as empresas, entre elas a Hydro, estão resistindo à ideia, o que pode levar a uma nova judicialização do assunto” (Sputnik).