O acirramento do debate político no Brasil parece ter prejudicado gravemente o senso de julgamento de algumas pessoas e boa parte da mídia. A informação de que familiares de Jair Bolsonaro utilizaram um helicóptero da Força Aérea Brasileira para se deslocar até o casamento de Eduardo, filho do presidente, ilustra bem essa realidade.

A informação foi retratada na mídia em tom de ilegalidade, como se o presidente houvesse cometido algo errado ao permitir o transporte, em maio desse ano, dos seus familiares para o casamento de Eduardo Bolsonaro. Ocorre que essa é uma maneira jornalisticamente suja e desonesta de abordar o assunto, visto que desconsidera o contexto da decisão.

Em qualquer país do mundo, autoridades que são alvos de ameaça real possuem proteção especial do Estado. Isso inclui também os familiares, visto que são pessoas diretamente ligadas ao alvo. No caso do presidente Bolsonaro, o mesmo sofreu uma tentativa de assassinato em setembro do ano passado que quase tirou a sua vida.

Desde então, ameaças reais de um suposto grupo terrorista implantado no Brasil foram dirigidas ao presidente e outras autoridades desde o anúncio da sua vitória nas eleições passadas. Em 19 de julho, por exemplo, a Veja publicou uma matéria dizendo que um “líder de grupo terrorista revela plano para matar Bolsonaro”.

Se trata da “Sociedade Secreta Silvestre (SSS), que se apresenta como braço brasileiro do Individualistas que Tendem ao Selvagem (ITS), uma organização internacional que se diz ecoextremista e é investigada por promover ataques a políticos e empresários em vários países”, informou a revista.

É óbvio que os parentes do presidente podem ser utilizados como alvos de violência, especialmente diante de deslocamentos conhecidos. Em países como os Estados Unidos, onde o governo também é alvo constante de ameaças, os familiares do presidente recebem proteção especial do Estado, contando com pelo menos 4 mil agentes de segurança apenas na Casa Branca, segundo O Incrível.

Aqui no Brasil, desde a posse de Bolsonaro, medidas de proteção semelhantes foram implantadas. “Segundo informações da área de inteligência, as ameaças continuaram mesmo após a eleição. ‘O GSI [Gabinete de Segurança Institucional] não comenta detalhes de sua responsabilidade com a segurança presidencial, mas confirma que existem ameaças que efetivamente preocupam'”, informou o Metrópoles.

Já neste sábado (27), mesmo sem precisar, Bolsonaro também comentou a insinuação maliciosa sobre o uso do helicóptero por seus parentes, explicando que nada além do previsto foi gasto com o transporte, uma vez que ele já seria destinado para o seu uso pessoal.

“Eu fui no casamento do meu filho. A minha família que tinha vindo do Vale do Ribeira estava comigo. Eu vou negar o helicóptero e mandar ir de carro? Não gastei nada além do que já ia gastar”, disse o presidente. Todavia, a justificativa não seria necessária diante das circunstâncias já explicadas

“O GSI informou que ‘por razões de segurança’ decidiu que o ‘presidente e familiares fossem transportados em helicópteros da Força Aérea Brasileira'”, informou o Estado.