O procurador da República e coordenador nacional da operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, concedeu uma ampla entrevista onde comentou vários pontos da sua atuação na força-tarefa e o sucesso que o combate à corrupção alcançou nos últimos anos, mas também fez um grave alerta ao dizer que os avanços estão se “esfacelando” diante dos ataques inimigos.

“Falam que a prioridade é a questão econômica, mas fecham os olhos para o fato de que só teremos uma economia forte no médio e no longo prazo se enfrentarmos o capitalismo de compadrio e a grande corrupção política brasileira”, disse Dallagnol, explicando em seguida sua visão:

“O compadrio é uma face perversa de um sistema extrativista, em que parte das elites desviam dinheiro e empobrecem a nação, como disseram Daron Acemoglu e James Robinson no livro Por que as nações fracassam. Nosso sistema eleitoral é capturado pelo dinheiro, como mostra o recente livro de Bruno Carazza. A corrupção grassa, reformas anticorrupção estão na gaveta, o combate à corrupção está se esfacelando e está sendo criado um clima favorável à impunidade”.

Questionado sobre o que mudou no país após a Lava Jato, Dallagnol enfatizou o número de condenados, valores recuperados e o grande apoio popular. “A maioria da população apoia a Lava-Jato. Não existe uma onda contrária à operação, essa não é a realidade do Brasil”, disse ele.

“Talvez, [a oposição] seja a realidade em alguns gabinetes políticos e núcleos militantes decepcionados com a condenação de seus líderes ou com a revelação de que eles praticaram corrupção”, completou Dallagnol, segundo o Correio Braziliense. “A Lava-Jato colheu provas de corrupção envolvendo muitos poderosos, inclusive o presidente mais popular da história recente do Brasil. A investigação não julga seus governos ou sua história, mas sim, atos e fatos praticados definidos pela lei como crime”.

Por fim, Dallagnol disse que não pensa em se candidatar a cargos políticos, mas que “o futuro a Deus pertence”, e que a sua fé e os filhos são fontes da sua inspiração para combater a corrupção. Na conclusão, o procurador ainda evitou responder os ataques do ministro do STF, Gilmar Mendes, que por várias vezes já usou termos ofensivos para se referir à Lava Jato e ao próprio Dallagnol.

“O que me preocupa é o futuro do país, onde meus filhos vão viver”, disse ele. “Apenas a sociedade pode mudar o país. Quanto às agressões injustas do ministro Gilmar, não vou ficar trocando ofensas com ele. Acredito que a sociedade saberá discernir o que está acontecendo”.