O depoimento do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na CPI da Covid, realizado na terça-feira (05), foi um banho de água fria para a oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro. Isso porque, para quem esperava tiros de canhão, não viu nada além do que “traques de massa”.

Por mais que a oposição negue este fato, obviamente por questões de imagem e sustentação de narrativa, a verdade é que Mandetta não fez qualquer declaração contundente capaz de comprometer o presidente Jair Bolsonaro, senão fofocas e ataques gratuitos que sobraram até para o ministro da Economia, Paulo Guedes.

O fiasco do depoimento foi tão evidente que até os grandes veículos de imprensa, em sua maioria oposição ao governo, tiveram dificuldade de extrair manchetes sensacionalistas o suficiente para atrair atenção e causar polêmica. Os principais títulos se resumiram aos ataques a Paulo Guedes e a supostos alertas feitos a Bolsonaro.

Entre todos os ex-ministros da saúde, Mandetta seria o nome com a maior chance de comprometer o presidente, não só pela clara oposição política ao seu governo, como pelo tempo a frente do Ministério, diferente de Nelson Teich, que nem chegou a completar 1 mês como gestor e que, por isso, certamente não terá muito o que dizer.

Nelson Teich também não manifestou até então qualquer postura expressamente agressiva contra o presidente Bolsonaro, e pelo fato de também não ter manifestado inclinações de ordem política (interesse em candidatura), tudo indica que ele não irá politizar na CPI em seu depoimento marcado para hoje (05), mas que procurará ser técnico.

O general Pazuello, por sua vez, é aliado de Bolsonaro, e Queiroga é o atual ministro da Saúde. Assim, a maior expectativa da oposição, de fato, seria Mandetta, que foi um fracasso em termos de acusações contundentes. Chamar o governo de “negacionista”, dizendo que o mesmo não deu atenção merecida aos seus alertas são discursos vagos, sem qualquer materialidade criminal.

A materialidade está na apresentação de fatos ocorridos capazes de comprovar a correlação entre uma ação e reação, por exemplo, apontando a consequência direta de uma decisão do governo sobre o número “X” de mortes, ou um erro específico sobre o destino de verbas para estados e municípios, etc. Nada disso foi apresentado!

A partir desse momento, o nível hierárquico entre os convocados para a CPI só tende a descer, e com ele a expectativa de fatos concretos contra o presidente. Fora da pasta da Saúde, nenhuma outra possui maior relevância para a CPI da Covid em termos de potencial comprometimento do presidente Bolsonaro.

Na Economia está Paulo Guedes, que dispensa comentários enquanto aliado. Na Justiça, só teria alguma importância o ex-ministro Sérgio Moro, o qual já está desmoralizado após o fracasso das suas acusações contra o governo em abril de 2020.

O que resta, então, para a oposição? A tendência é que os oposicionistas da CPI busquem pulverizar suas acusações, convocando figurinhas marcadas contra o governo, a exemplo de governadores como João Doria (SP) e Flávio Dino (MA), além de profissionais de saúde “imparciais”, quem sabe o Atila Iamarino (risos) para falar sobre os supostos efeitos de aglomerações, uso de máscaras e do tratamento precoce.

O fato é que sem elementos concretos contra o governo, a única alternativa dos opositores na CPI da Covid será buscar pessoas que sustentem narrativas como a do “negacionismo” e da potencialização de aglomerações e declarações isoladas do presidente como tendo capacidade de “genocídio”. Ou seja, novamente, acusações vagas e sem materialidade.

Fora isso, é muito possível que a CPI se converta em mais um tiro no pé da oposição, por exemplo, ao revelar para o país que a existência de fraudes na saúde dos estados e municípios, bem como o negacionismo do tratamento precoce foram os verdadeiros responsáveis pela potencialização do número de mortes. Se isso acontecer, a exemplo da reunião ministerial de 22 de abril de 2020, Bolsonaro ganhará mais uma bela peça de marketing eleitoral gratuita para 2022.