O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, parece estar caindo cada vez mais no desgosto dos seus ex-aliados, revelando um lado pessoal até então desconhecido do grande público.

Em seu depoimento prestado à Polícia Federal no último sábado (02), Moro não apenas falou contra o presidente Jair Bolsonaro, o que já era esperado, mas também envolveu vários ministros e interlocutores do Planalto em suas declarações.

Segundo ex-ministro, em uma reunião feita em Brasília no dia 23 de abril, Bolsonaro teria lhe ameaçado de demissão, caso não retirasse do cargo o ex-diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo.

Na ocasião, segundo Sérgio Moro, estavam presentes também os militares/ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Augusto Heleno Ribeiro (Gabinete de Segurança Institucional) e Walter Souza Braga Netto (Casa Civil).

Com base nisso, o ex-juiz da Lava Jato pediu que os ministros também sejam ouvidos como testemunhas do ocorrido, mas até então, aparentemente, Moro não contará com o apoio de seus ex-aliados.

Isso porque, segundo o Jornal de Brasília, em conversas reservadas, os auxiliares do presidente afirmam que todos foram “enganados” pelo ex-ministro da Justiça e relatam estarem desapontados. Eles têm relatado que não esperavam que Moro saísse do governo atirando.

Considerado um dos militares mais fiéis ao presidente Bolsonaro, a expectativa é que o general Augusto Heleno não vá colaborar com a intenção do ex-ministro da Justiça, caso ele mantenha suas acusações no nível de narrativa, e não de provas contundentes contra o governo.

Em vez disso, Heleno poderá, isto sim, reforçar ainda mais a ideia de que Moro estaria tentando construir uma narrativa de cunho pessoal, a fim de justificar perante a opinião pública o seu pedido de demissão diante de divergências naturais com o presidente da República, como uma possível indicação à vaga no Supremo Tribunal Federal.

O fato é, que, ao solicitar como testemunhas os militares mais próximos de Bolsonaro, Moro poderá estar dando um tiro não no pé, mas na sua própria cabeça.