Acreditamos que o Brasil é, sem dúvidas, um país de maioria conservadora. Mesmo entre os moralmente mais liberais, existe um senso de preservação de determinados valores. Mas, se isso é verdade, o que explica a derrota da direita em muitas pautas do Congresso?

A indicação e aprovação do senador Flávio Dino – um comunista autodeclarado – para o Supremo Tribunal Federal, por exemplo, indica que parece haver algo de errado no equilíbrio da nossa representatividade política.

Isso pode ser explicado, talvez, pelo “jeitinho brasileiro”, leia-se: a cultura da corrupção ideológica, burocrática, social e, portanto, moral, que parece estar entranhada na sociedade brasileira desde a sua fundação, sendo obviamente refletida na atuação dos nossos congressistas.

Desse modo, trair o voto do eleitor, sua confiança e expectativa, é quase uma certeza, sendo apenas uma questão de tempo, mesmo para os que se vendem como direitistas e conservadores, pois até essa representatividade majoritária, pelo visto, parece estar sujeita à cultura do “jeitinho”.

Talvez seja essa a explicação da traição que milhões de brasileiros sofreram ao confiar seu voto em figuras que se elegeram na onda conservadora de 2018, ainda com força em 2022, colocando nomes na Câmara e no Senado que deveriam ser irredutíveis quanto à colocação de um filiado ao Partido Comunista do Brasil na mais alta Corte do país, o STF.

Os danos daqui em diante poderão ser mais trágicos do que já são, diante daquilo que já enfrentamos como ativismo judicial. Salvo um tremendo e improvável engano sobre a postura do futuro ministro, com o poder que terá nas mãos somado aos outros, o Brasil poderá levar décadas para reparar o prejuízo.

Flávio Dino não foi aprovado para o Supremo por falta de senadores eleitos pela direita. Ele foi aprovado por causa dos nomes que, apesar de elegidos pela direita, cederam ao “jeitinho brasileiro”, mostrando que a cultura da corrupção no Brasil, antes de ser um problema que corrói as contas públicas e protege criminosos, se apresenta no caráter.