Textos com o dobro de palavras e de artigos, a fim de contemplar os gêneros masculino, feminino e neutro, é algo que ainda vemos em alguns textos das ciências humanas. Esse curioso vício explicitamente sugere algumas interpretações, que vão além do viés político daqueles autoproclamados “progressistas”.

Primeiro, é notório que essa prática demonstra uma necessidade de chamar a atenção. É óbvio que os responsáveis pela elaboração dos documentos de uma autarquia profissional sabem que ninguém redige normas e regulamentos recheando-os com estes “enxertos ortográficos” absolutamente inúteis.

Insistir nessa doentia fixação por iniciar tudo o que se escreve com termos grafados no gênero feminino, seguidos de uma barra e depois dos mesmos termos no gênero masculino (ou com letras x no meio) é algo risível, digno de dar pena.

Como já escrevi em outro artigo, há inúmeros países e culturas que há milênios empregam termos femininos (ou mesmo de gênero neutro) na sua linguagem, mas que na prática, as mulheres destas comunidades nunca tiveram os mesmos direitos dos homens, ou sofrem com muita discriminação. Assim, acrescentar ou mudar artigos e gêneros de palavras não exerce qualquer efeito social, concretamente.

Simplesmente não existe qualquer correlação entre trocar algumas letras, em uma língua (de uma hora pra outra) e, com isso, mudar todo um contexto cultural de uma comunidade, como um passe de mágica.

Além disso, supondo que a maior parte da população aplaudisse todas as ideias das feministas, LGBT’s e ideólogos de gênero, esta prática ortográfica já estaria sendo seguida por inúmeras pessoas e autores (homens ou mulheres) “espontaneamente”, não havendo a menor necessidade dessa insistência obsessiva, que algumas pessoas ainda alimentam.

O desespero por não encontrar nenhum eco social na repetição dessas práticas assemelha-se a certos comportamentos pueris e aos conflitos da puberdade, em especial às suas crises existenciais e necessidades de autoafirmação adolescente. Parece muito com aqueles comportamentos exibicionistas, em eventos formais por exemplo, onde pessoas com 50 ou 60 anos precisam “causar”, usando vestimentas inadequadas ou empregando velhas gírias de hippies.

Por outro lado, caso a justificativa para esta chuva de caracteres, adicionados sem nenhuma importância, seja um desejo de tornar a psicologia apenas “diferente” das outras ciências, temos aí outros agravantes. Primeiro, é uma prática de explícita arrogância às normas ortográficas da língua portuguesa.

Segundo, é um movimento separatista que almeja desunião da psicologia dentro de seu próprio conjunto de profissionais e também destes, com o restante da comunidade. É como se houvesse uma clara intenção, por parte de um diminuto grupo, de impor a vontade desta sua “tribo” dentro e fora da própria profissão.

Separando-se do mundo real, com vistas a tentar “lacrar” por suas esquisitices, a psicologia mais uma vez esfrega, no rosto da população, seu desejo por desunião e intolerância a tudo o que a maioria da população aceita. Este verdadeiro vício, por tudo o que se relaciona com a inadequação social, revela uma triste característica de alguns grupos de psicólogos e pessoas das áreas de humanas: sua repulsa à ciência e ao verdadeiro pluralismo e diversidade de ideias.

Outra vez fica claro o impulso separatista de alguns psicólogos e de pessoas autoproclamadas progressistas, que é o de promover um apartheid na sociedade, endeusando e idolatrando ditadores e revolucionários, ao mesmo tempo em que atacam a cultura e o pensamento das pessoas que possuem crenças religiosas de matriz judaico-cristãs, ou que expressam convicções políticas de orientação conservadora ou de direita.

Isso carrega, em seu bojo, uma curiosidade. Os próprios psicólogos progressistas insistem na importância da pluralidade de opiniões e na cooperação com outros profissionais em projetos multidisciplinares. Porém, na verdade, esse discurso é apenas mais um jogo populista de semântica, com palavras que escondem segundas intenções.

Na prática, o tal pluralismo acaba significando estudar e aceitar apenas os diferentes pontos de vista marxistas e progressistas, ou os que são contra os conservadores. E a multidisciplinariedade engloba apenas os diferentes profissionais das áreas humanas que compartilham ideais da esquerda, com discurso anti-capitalista, como certos assistentes sociais, antropólogos e filósofos.

Em suma, ao insistirem nessa “rebeldia das letrinhas”, o que parecem tentar esconder é certa debilidade ou incapacidade na elaboração de documentos com conteúdo relevante e que fazem sentido para todos. Assim, como a cortina de fumaça dos mágicos, os caracteres inutilmente adicionados iludem o leitor ingênuo, que não percebe a falta de objetividade e a ausência de informações e de compromisso com a verdade do texto.