O surgimento das redes sociais trouxe consigo inúmeros benefícios, sendo a facilidade de comunicação o maior deles sem dúvida. Todavia, alguns malefícios podem ser citados e nessa lista está a superficialidade intelectual provocada pela leitura rasa dos conteúdos publicados na internet.

Por “leitura rasa” nos referimos não aos conteúdos, em si, mas ao comportamento característico de grande parte dos usuários das redes sociais: a leitura de títulos ou, no máximo, legendas!

A DNPontoCom de Curitiba, por exemplo, fez um estudo em 2018 apontando que 7 em cada 10 pessoas da geração Z – ou seja, aquelas pessoas nascidas no fim da década de 1990 até 2010 – leem apenas os títulos das notícias, segundo a Difusora24h.

É uma informação cômica, para não dizer trágica! Isso, porque, grande parte das reações que se insurgem naquilo que é publicado nas redes sociais está nos comentários, e o que podemos cogitar a partir desse estudo é que 7 em cada 10 pessoas, consequentemente, comentam acerca do que não leram e, portanto, do que não sabem.

Isso nos levou a pensar num artigo publicado pela Galileu que parece descrever bem este cenário já em seu título: “Quem só lê o título de matérias pensa saber mais do que realmente sabe.” De fato, essa é a realidade observada.

A Galileu não fez uma afirmação aleatória. Sua matéria teve como fundamento um estudo feito pelo Research And Politics, o qual apontou como a reação do público em relação às notícias publicas em plataformas como o Facebook, por exemplo, é extremamente superficial.

O falso conhecimento

O que esses dados nos revelam vai além de um mero comportamento. Eles apontam um condicionamento mental, isto é, uma forma-padrão de aprendizado que para o usuário parece segura, mas na realidade é falsa.

É por isso que a satisfação de muitos usuários das redes consiste em comentar, pois eles sentem a impressão de que ali, naquele mísero espaço, estão esboçando algum grau de conhecimento, quando na verdade na maioria das vezes não passa da exposição de ignorância.

Como o espaço é curto e às reações são imediatas (curtidas, por exemplo), a sensação de “poder” diante daquilo que se comenta, quer crítica ou elogiosamente, aumenta, fazendo com que o indivíduo sinta prazer naquilo que publica.

Esta constatação não é uma crítica a quem comenta, entenda: ela é uma crítica aos comentaristas de títulos que se julgam capacitados para emitir juízo sobre o desconhecido. A posição desses últimos não é outra, senão a da ignorância e imaturidade mental.

Tal como é a natureza falsa do conhecimento que leitores de títulos possuem, é a consistência dos comentários que emitem. É isso o que explica o caráter geralmente abstrato e raso das críticas ou mesmo elogios apresentados diante de um conteúdo.

O leitor de título, em se tratando de comentários críticos, não consegue pontuar elementos objetivos. Ele critica a forma, uma imagem, a impressão de uma ideia ou em alguns casos o próprio autor do conteúdo, pois não possui conhecimento e nem capacidade analítica suficiente para apontar quais são seus elementos de discordância de forma objetiva.

Na essência, portanto, a crítica do leitor de título não é diferente dos argumentos de uma criança birrada com às questões mais complexas da vida, a qual sem entender a amplitude de um raciocínio ou causa “X”, simplesmente se volta contra o seu conteúdo pelo mero prazer da discordância, ainda que irracional.

Por fim

A leitura completa de conteúdos não é garantia de compreensão do mesmo, é verdade, mas sem dúvida é um passo necessário para isso. Se quem lê muitas vezes já não entende, o que dizer dos que não leem?

Na prática, ninguém é capaz de ler tudo o que enxerga nas redes sociais, integralmente, mas é capaz de ser sábio no que diz respeito ao reconhecimento da própria ignorância diante de certos conteúdos.

Quem não faz esse autojulgamento tende a expôr gratuitamente não apenas sua ignorância e arrogância publicamente, como também uma condição mental imatura e emocionalmente carente de atenção, e tudo ao custo de uma falsa sensação de poder e algumas míseras curtidas.