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Decisão de Doria de afastar coronel da PM pode ter sido um tremendo tiro no pé

Decisão de Doria de afastar coronel da PM pode ter sido um tremendo tiro no pé

O governador tucano João Dória, de São Paulo, anunciou o afastamento do coronel Aleksander Lacerda, da Polícia Militar, após o agente público ser acusado de fazer publicações apoiando a manifestação para o dia 7 de setembro, prevista para ocorrer na Avenida Paulista às 14h.

Além de endossar a manifestação através de postagens, o coronel também é acusado de fazer críticas ao próprio governador paulista e também ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

De fato, por lei, qualquer militar da ativa é proibido de externar opiniões políticas ou promover manifestações de mesma natureza, bem como tecer críticas aos seus superiores. Essa medida visa garantir a neutralidade dos militares em relação aos assuntos políticos.

Mas, a decisão foi inteligente?

Indisciplina militar não deve ser tolerada, de fato. Essa é uma questão que não deve ser discutida, pois visa garantir o respeito às hierarquias e à ordem no país. Muito embora a punição ao coronel Lacerda divida opiniões, uma vez que ele parece ter se manifestado apenas de forma pessoal, e não oficialmente, a decisão de Doria possui embasamento.

O problema da questão, portanto, não está no mérito da decisão, se foi ou não realmente correta. Deixemos essa questão para a seara do Direito. A nossa problemática é: foi uma decisão inteligente?

Primeiro, devemos considerar a proporcionalidade. O afastamento é uma medida que pode ser considerada drástica para um comandante. Lacerda tinha sob o seu comando 7 batalhões, o que significa cerca de 5 mil homens e mulheres da PM paulista, algo de muita responsabilidade.

Ser afastado de um cargo de comando por compartilhar postagens de endosso a uma manifestação que promete ser “gigante”, portanto, pode acabar resultando em um efeito inverso ao pretendido, e é aqui onde temos o segundo problema: o contexto político!

Precisamos lembrar que o momento do país é de tensão política e institucional devido à crise entre os poderes, e nesse contexto existe um presidente da República que é notadamente apoiado pela ala militar, ou pelo menos por sua grande maioria.

Portanto, quando um governador que se apresenta como grande rival e crítico desse presidente, resolve punir um dos comandantes da PM, justamente por apoiar uma manifestação de apoio ao governo que tem como uma das pautas a defesa da liberdade de expressão, qual é a mensagem que isso transmite?

Para os militares que apoiam o presidente da República, a mensagem pode não ser a de disciplina, mas sim de autoritarismo. O mesmo vale para a população que pretende participar do ato em 7 de setembro. Mas então, qual seria a saída para Doria diante de uma situação como essa?

O governador, de fato, não poderia ficar sem reagir, pois isso demonstraria fraqueza política e hierárquica. Todavia, o afastamento do coronel não parece ter sido a melhor decisão. Doria poderia ter apenas notificado o militar com algum outro tipo de advertência, cobrando do mesmo observância quanto às regras da PM, ou seja, uma espécie de “puxão de orelha”.

Acreditamos que essa seria a melhor forma de reagir no atual contexto. O governador não ficaria sem demonstrar força e cobrar disciplina, e o coronel e seus PMs, por outro lado, não se veriam alarmados diante de uma medida que tem potencial para ser encarada como autoritária.

Uma vez que a decisão já foi tomada, resta aguardar os desdobramentos disso entre os próprios PM e demais forças militares do estado. Doria poderá ser ouvido e respeitado, alcançando o efeito que ele espera, que é o da moderação e sujeição à sua autoridade? Sim, mas também poderá se surpreender com uma reação gradual ou em massa de desobediência, especialmente no dia 7.

E aqui cabe uma observação importantíssima: manifestações em São Paulo são referências para o Brasil inteiro, a história mostra isso. O que ocorre lá, tem o potencial para se espalhar pelo país, o que significa que se houver uma “debandada” militar em termos hierárquicos por lá, os demais estados também poderão ser afetados. O momento delicado!

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