O ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, concedeu uma entrevista onde comentou pontos sensíveis envolvendo a operação Lava Jato, assim como a forma como os integrantes da força-tarefa são vistos pela população, entre eles o atual ministro da Justiça, Sérgio Moro.

Gilmar Mendes considera que a aprovação do projeto de lei contra o “abuso de autoridade”, feita pelo Senado nesta quarta-feira (26), é apenas o ponto de partida para uma reforma na legislação e a correção de rumos contra exageros cometidos por juízes, promotores e policiais.

O que chama mais atenção, todavia, é o nítido tom agressivo de Gilmar Mendes contra os integrantes da Lava Jato, os quais para ele são tratados como “heróis” pela mídia, mas para ele são “falsos”. Questionado sobre o que pensa sobre o ministro Sérgio Moro, Mendes respondeu:

“Não vou emitir juízo sobre isso, não é da minha alçada. Acho que essa é uma questão política que terá de ser discutida no âmbito político”.

Entretanto, quando perguntado se a maneira heroica como Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato são tratados pela população poderia incentivar excessos na operação, Gilmar Mendes respondeu:

“Se eu fosse listar todos esses episódios, teríamos vários desses personagens que já não são mais lembrados, como o procurador Luiz Francisco, o delegado Protógenes (Queiroz), que a mídia em algum momento transformou em herói e, quando se revela a sua inconsistência, a mídia lhes dá um enterro silencioso. Se a mídia já tivesse feito um exame, talvez a gente não tivesse de conviver com esses falsos heróis da atualidade. Em geral, não têm vida longa. O cemitério está cheio desses falsos heróis“, afirmou Mendes (destaque nosso).

Gilmar Mendes: “Temos de encerrar esse ciclo de ficar na busca de heróis”

Quando foi questionado se o ministro Sérgio Moro estaria na lista do que considera “falsos heróis”, Gilmar Mendes negou, atribuindo à mídia a culpa pela construção da imagem heroica dessas pessoas, e não ao mérito delas mesmas, que por sua vez é reconhecido pela população.

“O que eu acho é que faz parte do nosso processo civilizatório, nós temos de encerrar esse ciclo de ficar na busca de heróis. Eles são apresentados por vocês (mídia) como tal e eles passam a acreditar nisso. Depois, coitados, passam a ter um grande problema de depressão, obviamente antes de desaparecerem por completo”, disse o ministro.

No decorrer da entrevista, Gilmar Mendes sugere que a decisão em favor da prisão em segunda instância (que permitiu a prisão do ex-presidente Lula e inúmeros outros criminosos) deverá ser revista em breve pelo STF. O ministro também disse que a Lava Jato “já é uma ideia distorcida”.

“Acho que se estimulou muito esse jogo de espertezas institucionais, nessa busca de atalhos em nome supostamente de um combate à criminalidade, da correção de rumos. A própria ideia de força-tarefa já é uma ideia distorcida”, disse ele, segundo informações do Correio Braziliense