Foi por volta do século XVII que a educação pública passou a ter o objetivo de formar moral e eticamente as pessoas. Para os intelectuais deste período e seus seguidores, todas as estruturas milenares como família e religião poderiam se dissolver, entretanto a novidade chamada Estado Moderno permaneceria para sempre.

A partir da crença religiosa no Estaticismo foi-se elaborando filosofias e metodologias educacionais com roupagens mais diversas. Todas, no entanto, apostando na possibilidade de se efetivar um projeto específico: formar uma sociedade, leia-se nação, “com espírito comunitário”.

Os educadores passam a ser embebecidos com a ideia vaidosa de que os pais seriam incapazes de educar as crianças. O philosophe de Rousseau, ou intelectual orgânico de Gramisci, não estaria manchado pelos “entendimentos e preconceitos” de seus pais. Não importava ensinar leitura, escrita e aritmética. Importa “formar o cidadão”.

Esses ideólogos estão há mais de trezentos anos tentando implantar tal projeto. Quando questionados, respondem com o mantra: “Mas o verdadeiro sistema ainda não foi implantado”. Se o caos educacional hoje é uma tentativa, mas não o verdadeiro sistema, quem ainda quer esse sistema? Insanos! É um sistema fracassado, nasceu fracassado, nunca terá sucesso.     

Pensemos um pouco. O sistema progressista de educação quis quebrar o primeiro vínculo de autoridade que uma criança deve construir: a família. Isto foi há trezentos anos. Geração após geração, crianças foram ensinadas a negar a autoridade familiar em nome da autoridade social. A sociedade, no entanto, foi sendo formada por estas pessoas que não possuem referencial de autoridade.

Confunde-se, então, autoridade com autoritarismo. Aceita-se o autoritarismo, porque o homem natural precisa de ordem e segurança. E entre cento e cinquenta e duzentos anos depois das primeiras ideias sobre educação pública moderna, surgem os regimes ditatoriais Comunismo, Fascismo, Nazismo e suas expressões, resultando dos seus sistemas educacionais: guerras e genocídios.

Passados os momentos épicos dos resultados da educação pública moderna setecentista. Novas roupagens são dadas aos velhos objetivos. É assim que se impõe projetos nocivos com ares de solução honrosa. Há alguns anos, por todo o Brasil vem surgindo propostas sobre escolas integrais. As referências para justificar são as mesmas: as escolas-modelos de países distantes que em nada se parecem com a realidade, cultura ou história brasileiras.

Não precisamos entrar no mérito das novas configurações familiares ou condições financeiras, para expirar nossos ares de superioridade moral. Questionamentos assim são facilmente respondidos com contrapontos históricos e cálculos monetários.

O objetivo aqui é pensar se uma escola integral, considerando os pontos levantados anteriormente, pode realmente oferecer pessoas melhores para sociedade. Ou mesmo que tipo de pessoas estas escolas entregarão? E se este modelo consegue, por fim, alcançar o objetivo a que se propõem: “formar uma sociedade mais justa”.

Na prática burocratas ideólogos despejam este projeto em cima de profissionais com altos índices de doenças mentais (estresse, depressão, etc.), de famílias que desconhecem seu papel e de jovens com problemas de concentração. Como ficam as relações? E “o que se passa entre”? E o segurar na mão? Quem ensina a atravessar a rua? Trezentos anos se passaram e a religião humanista continua querendo converter a sociedade, esquecendo-se que ela é formada por indivíduos.

A escola em tempo integral precisa oferecer atrativos (estrutura e atividades) que faça os alunos a acharem preferível a outros espaços de sociabilidade, não lhes obrigar a permanecer nela como se fosse uma estrutura meramente disciplinar e não formativa. Só é possível fazer uma defesa da escola em tempo integral (ou qualquer instituição de ensino), quando ela for pensada para respeitar primeiro as liberdades individuais.