Há algumas semanas, o pastor Yago Martins, lançou um livro com o título provocativo: “A máfia dos mendigos: como a caridade aumenta a miséria”. O livro ainda estava na pré-venda e instigou uma onda de protestos. Exigências para que ele o retirasse de circulação, questionamentos sobre a validade da metodologia empregada e até ameaças de morte. Yago respondia às criticas com humor e um certo sarcasmo.

Numa entrevista, Yago explica que passou cerca de um ano disfarçando-se e interagindo com pessoas em situação de rua, além de haver lido textos acadêmicos sobre o tema da miséria. Ele conclui que existem pessoas nessas condições que se aproveitam da caridade alheia, seja para permanecer de forma acomodada no lugar social em que está, seja para algum acúmulo próprio (ele comentou na entrevista o caso do flanelinha que chegava num carro importado para sua área de ocupação).

Segundo o autor, quando se dá esmolas apenas para “se livrar” do mendigo o cidadão pode estar impedido que aquele recurso chegue a quem realmente precisa. A solução, segundo ele, é seguir o princípio cristão de estabelecer relacionamento com a pessoa para quem se doa o recurso material. Mais do que gastar dinheiro, seria preciso gastar tempo. Investir intelecto.

A pergunta que fica é, por que um livro sobre – aparentemente – relacionamento e responsabilidade individual provocou a fúria da internet? Se cavarmos fundo poderíamos chegar às raízes da educação moderna, por volta do século XVII, mas fiquemos com o construtivismo do século XX.

As propostas educacionais que permeiam a nossa sociedade baseiam-se nas necessidades das crianças. O foco da família e da comunidade, agora, não é formar uma geração que sirva à perpetuação da nossa sociedade, mas criar um microcosmo que acolha e se adapte aos desejo e carências daquele novo ser.

Ao crescer, geração a geração, as pessoas vão construindo uma sociedade cada vez mais sentimentalista e menos intelectualizada. Ou seja, não importa o conteúdo de um livro, não importa a biografia de seu autor, não importa o propósito para o qual este livro foi publicado. Importa tão somente o fato que seu título, somente o seu título, ofende os sentimentos daqueles que não foram educados para servir à sociedade, porque tiveram a melhor educação que a pós-modernidade, através do construtivismo, poderia lhes oferecer. 

Quantos destes que vociferaram contra o autor não estavam usando seu conhecimento da língua apenas para defender seus interesses (mesmo disfarçados de defensores da caridade), quando deveriam estar aptos à aplicar algum método de aprendizagem (antes de emitirem opiniões sobre o título, sim somente o título, de um livro)? Todos se mostraram claramente analfabetos com letramento!

Yago saiu ganhado com a propaganda gratuita provocada pelos seus desafetos, mas mais uma vez a sociedade brasileira saiu perdendo, envergonhada e denudada. A discussão em torno da pré-venda do livro escancarou a geração frutificada pela educação construtivista e, mais uma vez, provou ineficiência do letramento. Mostrou que a alfabetização, tal como nossos avós receberam, ainda é eficaz. O que faz lembrar o antigo ditado: “nunca julgue um livro pela capa”. Ao qual se complementaria: para não passar vergonha nas redes sociais.