Quem ainda acredita ser possível manter a verdadeira pluralidade de ideias na internet, através dos atuais meios de comunicação, muito provavelmente não tem conhecimento sobre o avanço dos mecanismos de censura, que, em nome de falsos argumentos, visam calar a voz do contraditório.

Não citaremos aqui os movimentos já existentes dentro e fora do Brasil para não promovê-los, mas podemos citar um como exemplo, noticiado pela Exame esta semana. Se trata da campanha #StopHateForProfit, a qual teria como justificativa denunciar o suposto fracasso do Facebook em proibir a disseminação de conteúdos de “ódio” e “notícias falsas”.

“A iniciativa responde a pressão de grupos de direitos civis como a NAACP, Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor, e a Liga Anti-Difamação. Para essas organizações, o trabalho do Facebook não tem sido suficiente no combate ao ódio e as notícias falsas”, informa a revista.

Como resultado dessa pressão, as marcas de roupas Patagonia e North Face disseram ter pausados seus anúncios no Facebook e Instagram. A rede social, por sua vez, não cedeu o boicote e disse que respeita a decisão das marcas, e que mantém o diálogo aberto com diferentes partes da sociedade civil.

“Discurso de ódio” e “fake news”

Na base dos argumentos levantados por esses movimentos está a ideia de combater o “discurso de ódio” e as “fake news”, ou notícias falsas. Todavia, como já abordado pelo Opinião Crítica em outra ocasião, quem define o que é “ódio”, “verdadeiro” ou “falso”?

Em questões de caráter objetivo é fácil definir o que é falso ou verdadeiro. Fatos são fatos, certo? Ou seja, dizer se um acidente “X” ocorreu ou não na manhã de hoje, se um político teve o seu mandato cassado ou se já foi condenado por algum crime, é algo simples.

Porém, nem tudo está sujeito a uma definição exclusiva. O “ódio”, por exemplo, é um sentimento, de modo que conceituá-lo é amplamente subjetivo e sujeito a múltiplas interpretações.

Uma pessoa que não concorda com determinado pensamento pode apontá-lo como “disseminador de ódio” simplesmente por não aceitá-lo como divergente, assim como alguém pode alegar ser falsa a notícia sobre a ideia de que extraterrestres existem, quando há milhares de pessoas afirmando o contrário com base naquilo que consideram “provas”.

A criminalização da ciência

O perigo da censura à liberdade de pensamento já é uma realidade na ciência há décadas. Não entraremos no mérito do passado, mas podemos citar como exemplo a remoção, no presente, do vídeo de Walt Heyer, o fundador do Sex Change Regret.

Heyer foi um dos primeiros indivíduos da era moderna a investir na chamada “transição de gênero”, ou “mudança de sexo”, como é conhecido popularmente o complexo processo de terapia hormonal e cirurgias de “ressignificação” sexual.

Contudo, Heyer se arrependeu da mudança e resolveu falar sobre o assunto, gravando um vídeo onde afirma que ele tinha, na verdade, “disforia de gênero”, uma condição definida no 5ª Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.

O vídeo do agora ex-transgênero foi removido do YouTube após ser denunciado por alguns usuários por suposto “discurso de ódio”, segundo informações do The Federalist.

Neste caso temos um exemplo do quanto uma posição divergente no âmbito científico foi alvo de censura, visto que o debate sobre questões de gênero no mundo inteiro não possui o menor consenso, mas pelo contrário, ainda é amplamente discutido e possui diferentes perspectivas, sendo a “disforia de gênero” um desses quesitos.

Plataformas alternativas

Com base no cenário já citado vemos o quanto é vital que a população conservadora desenvolva suas próprias ferramentas de comunicação, visto que a hegemonia do pensamento progressista nas maiores plataformas online do mundo é notória.

Leis de garantia das liberdades individuais de pensamento e expressão infelizmente não garantem a manutenção das mesmas, pois só precisam ser alteradas ou submetidas a novas leis que, como já explicado anteriormente, buscarão enquadrar o divergente sob à perspectiva de “discursos de ódio” de “fake news”.

Assim, cabe aos grandes influenciadores da direita e do conservadorismo a mobilização para a criação e lançamento de mídias alternativas, tais como redes sociais. Comercialmente falando, por sinal, é uma boa oportunidade, visto que o mercado no segmento é carente.

Obviamente, essa iniciativa não é a ideal e não impede que em paralelo a sociedade lute pela garantia da verdadeira pluralidade de ideias nos meios tradicionais. Contudo, é uma medida que visa o equilíbrio e a permanência do contraditório no debate público.