“Toda forma de amor vale a pena” – Você já deve ter ouvido essa frase diversas vezes na mídia, mas certamente não viu, nessa mesma mídia, uma análise crítica sobre a lógica implícita dessa afirmação, capaz de legitimar comportamentos destrutivos em nome do “amor”.

Esse texto visa desconstruir alguns argumentos de quem defende “toda forma de amor”, indiscriminadamente, sem levar em consideração às implicações ideológicas, políticas e práticas de quem acredita que tudo vale a pena quando existe “amor”. Mas para que o leitor entenda corretamente essa reflexão, precisa ler o texto completo e com atenção.

Certamente não temos como resumir todo conceito de amor, visto que se trata de algo subjetivo. Entretanto, na maioria das culturas o conceito de amor está presente. Mudam os termos, características e objetos alvos do amor, mas o ideal de amor como um sentimento de forte apego, doação, sacrifício, reverência e até adoração, está presente nos quatro cantos do planeta, como observa o autor Alain Braconnier, em “O Sexo das Emoções” (1998).

Desse modo, embora não possamos apresentar um conceito único acerca do amor, podemos sim apontar às características que lhe define e são comuns aos diferentes povos na maneira como eles o conhecem. Portanto, é falando das características comuns do amor que apontamos sua universalidade. Fácil de entender, certo?

Características universais do amor

Por exemplo: o amor oferece respeito ao seu objeto alvo. Quem ama algo ou alguém não deseja o seu mal, mas pelo contrario, procura fazer o possível para lhe agradar. O amor, portanto, também é uma forma de doação pessoal e sacrifício pelo outro.

Outra característica do amor experimentada universalmente é o seu perfil “relacional”. Ou seja, o amor é um sentimento que surge através da relação que desenvolvemos com alguém. Em outras palavras, o amor só ganha vida quando existe alguma forma de reciprocidade, de modo que a relação entre dois sujeitos se estabelece de forma recíproca.

Não é por acaso que “amor não correspondido” trás sofrimento, visto que não existe uma relação de reciprocidade. Você pode amar alguém mesmo não sendo correspondido, mas essa não é uma característica universal, e sim a reciprocidade (relação).

Dessa forma, percebemos outras duas características do amor que são a espontaneidade e a liberdade. Note que essas características nem sempre foram reconhecidas através das instituições tradicionais da sociedade, como o casamento, porque durante muitos séculos e até hoje, em algumas culturas, as uniões afetivas ocorreram por via de interesses comerciais, familiares e religiosos, mas não em função do sentimento envolvido na relação.

Todavia, isso não deve ser confundido com a ausência do conceito de amor. A diferença é que ele, o amor, não era visto como uma necessidade ou prioridade no estabelecimento da união, sendo mais importante os benefícios sociais em decorrência dos acordos, muitos dos quais envolvendo a sobrevivência da descendência familiar.

O amor na antiguidade

Nos contos mitológicos mais antigos que temos registro na história, como no mesopotâmico de Gilgamesh, a filosofia ayurvédica de Brihadaranyaka Upanishad, dos deuses gregos do Olimpo aos Astecas, no México, o amor está presente em todos eles.

Isso nos mostra que independentemente da maneira como este sentimento foi experimentado pelo ser humano através dos “contratos sociais”, seu conceito sempre esteve presente, sendo perpetuado através do simbolismo cultural de cada geração.

O mais importante relato histórico de que temos notícia acerca do amor está na Bíblia judaica e cristã (primeiro e segundo testamentos), devido não apenas a sua integridade documental e número de manuscritos – o que lhe dá autoridade histórica maior do que qualquer outro registro antigo – mas também pela amplitude e clareza dos conceitos apresentados, e também pelo estabelecimento do amor como eixo fundamental das relações não só humanas, mas também com a figura de Deus, o que significa uma ruptura com os modelos de “contratos sociais” vivenciados até então, tanto na ordem familiar como religiosa.

Por que nem toda forma de “amor” vale a pena?

Nem toda forma de amor vale a pena porque muito do que se fala sobre o “amor” não diz respeito ao amor, propriamente, como das características universais apontadas acima, onde há doação, liberdade de escolha, espontaneidade e recíproca, mas sim de interesses ideológicos e comportamentos que apenas utilizam o termo “amor” para tentar justificar atitudes destrutivas entre os seres humanos e até com outras espécies.

Por exemplo: estupradores de crianças e adolescentes utilizam o termo “amor” para justificar seus interesses sexuais perversos, conhecidos como “pedofilia”, criando para isso movimentos sociais como o americano NAMBLA (Associação Norte-Americana do Amor entre Homens e Garotos), o Vereniging Martijn, na Holanda e até partidos políticos como o PNVD (Partido da Caridade, da Liberdade e da Diversidade), também nesse país.

Muitas dessas organizações sofreram repressão e chegaram a ser consideradas ilegais, o que não significa muita coisa, visto que o ativismo permanece e em alguns casos através dessas mesmas organizações, operando na sombra do Estado.

O Partido Comunista da Grã-Bretanha, em plena atuação, defende a suspensão da idade de consentimento para relações sexuais entre adultos e menores de idade. Isto significa que se uma criança de 11 anos, por exemplo, “consentir” fazer sexo com um adulto, ela poderá, porque segundo a defesa desse partido que, na verdade, é exatamente a mesma do ativismo pedófilo, a criança deve ter o “direito” de expressar a sua sexualidade.

Tudo não passa de uma justificativa ideológica para que pedófilos possam manipular, assediar, abusar e estuprar crianças e adolescentes, muitas vezes sob a justificativa do “amor” consentido.

Alice Day"El dia del orgullo Pedofilo" | •Terror Paranormal Esp• Amino
Símbolos associados ao ativismo pedófilo no mundo, chamados de “glogos”. Reprodução: Google

Símbolos utilizados por várias organizações pelo mundo para se referir ao ativismo pedófilo, mais conhecidos como “Blogos”, apontam a existência desses movimentos que atuam na clandestinidade na maioria das vezes.

No geral, o centro representa uma criança (menino ou menina) envolvida por um adulto.  Note que todos se referem ao “amor” para com às crianças (imagem acima).

Da mesma forma, estupradores de animais como cachorros, por exemplo, utilizam o termo “amor” para justificar seu interesse sexual por essas espécies, chamado-a de relação entre espécies, mais conhecida como “zoofilia”. Essa “lógica” se aplica à qualquer espécie!

É com base nisso que em países como a Finlândia, Noruega, Dinamarca e Romênia o estupro de humanos contra animais é reconhecido – legalmente – sob a justificativa de “parceria” e “amor”. O jornal Daily Mail revelou em 2013 que há uma “tendência” na Europa dos chamados “bordéis animais” para pessoas que desejam “outra opção” sexual. Essa é uma realidade que passa despercebida da maioria.

Em países como a Alemanha, desde 1969 já existia uma lei que permitia esses abusos, desde que os animais não fossem maltratados “de forma significativa”. Essa lei só foi revogada, acredite, em 2013, sob protestos de uma das maiores organizações pró-zoofilia do mundo, a “ZETA” (Engajamento Zoófilo pela Tolerância e Informação).

Em todo caso, o ativismo zoófilo através de clubes de encontro e grupos espalhados pelo mundo permanecem, todos alegando “amor”, “direito animal” e “diversidade” de “orientação sexual”.

Mulher que casou com próprio cão agora anuncia que esta grávida ...
Amanda Rodgers disse “amar” tanto o seu cachorro que se casou com ele. Reprodução: Google

Em 2014 Amanda Rodgers foi ao programa de TV britânico “This Morning” para falar do – casamento – com o seu cachorro. Ela relatou sua experiência sexual com o animal e disse que os dois “se completam” (foto acima).

Dessa forma, perceba que quando o conceito de amor é reduzido meramente a um discurso, um termo linguístico e totalmente abstrato, ele pode, de fato, se tornar qualquer coisa que se pretende chamar de “amor”, incluindo os casos acima e exemplos como a necrofilia (sexo com cadáveres), o incesto (sexo entre parentes, como pais e filhos) e o sadismo (prazer de imprimir sofrimento a outra pessoa), entre outros.

Não é diferente do assassino que por ciúme afirma ter matado alguém “por amor” ao não suportar o fim de uma relação, ou do terrorista que explode multidões em nome de “deus” ou da pessoa que por algum motivo de ordem psicológica acredita poder casar com um objeto e manter relações com ele “por amor”.

Em 2013 o americano Mark, na época com 20 anos, quis se – casar – com um dragão inflável. Ele trata os objetos como se estivessem vivos, chegando à cozinhar e dormir com eles. Em um programa de TV alegou que os “ama” muito.

The man who is in love with INFLATABLES and says he would marry ...
O americano Mark quis se casar com um dragão inflável alegando “amá-lo” muito. Reprodução: Google

Esses são exemplos reais, não são piadas, alguns tristes demais por revelarem uma condição de profunda confusão mental dessas pessoas, como no exemplo de Mark (foto acima).

Em muitos casos, no entanto, o que vemos são comportamentos que violam a ordem moral estabelecida pela sociedade, exigindo sua total rejeição (ou normatização), como afirma o Sociólogo Anthony Giddens (2008) na obra “Sociologia”. Certamente esse julgamento serve para organização da civilização, daí podem ser considerados distúrbios, perversão, doenças ou simplesmente imoralidade.

O papel destrutivo da ideologia de gênero sobre o discurso de “amor”

Recentemente publicamos o caso de Vinny Ohh, um americano de 22 anos que fez mais de 110 procedimentos cirúrgicos para se transformar em um “sem gênero extraterrestre.” Qual é a relação disso com a frase “toda forma de amor vale a pena”? Sua relação está na abstração da natureza humana e a consequente desconstrução do referencial biológico.

Uma vez que a ideologia de gênero despreza a natureza biológica do sexo para afirmar que o dado mais relevante da sexualidade humana é a maneira como alguém se percebe, ou seja, como se identifica socialmente, como se “gênero” não dependesse, também, do sexo biológico e a condição genética não lhe servisse de indicativo para formação da sexualidade, essa ideologia contribui para que qualquer afirmação acerca do “amor” utilize a sua lógica.

Em outras palavras, se não há uma referência de natureza sexual e entre espécies (porque reconhecer diferenças de espécies obriga os ideólogos de gênero à reconhecerem, também, às diferenças sexuais, o que invalida a concepção de “gênero” como dado suficiente para formação da orientação sexual), qualquer afirmação de “amor” e “gênero” não precisa estar vinculada a nenhum tipo de natureza, visto que tudo se resume a uma “percepção” e “construção social”.

Amor não é qualquer coisa

Por fim, sempre que nos referimos ao amor devemos ter consciência acerca do que está sendo dito, para qual finalidade e em qual contexto, visto que em muitos desses casos não é de amor que se fala, mas de comportamentos perversos e doentios que pessoas ou grupos pretendem legitimar.

Lembre-se sempre que o verdadeiro amor, àquele baseado em características universalmente comuns (porque o ser humano é – humano – em todo planeta), não explora a inocência do outro, especialmente se esse “outro” estiver impotente sob o seu domínio e poder de manipulação (como é o caso da pedofilia e zoofilia). Não impõe comportamentos sofríveis ou arriscados, capazes de prejudicar a si mesmo e principalmente o outro.