O caso da menina de 10 anos que sofria abusos sexuais de um tio em São Mateus (ES), desde os 6 anos, ficou grávida e teve autorização da Justiça para abortar, serviu de palco para hipócritas, oportunistas e fanáticos das mais diversas espécies.

De um lado, abortistas, especialmente feministas, usando o caso para fazer apologia ao aborto como um suposto direito da mulher. Do outro, religiosos e conservadores que se viram no direito de fazer manifestação na frente do hospital onde a menina de 10 anos foi submetida ao procedimento abortivo.

Enquanto isso, nas redes sociais, youtubers milionários se mostraram “comovidos” com o caso para anunciar publicamente, aos quatro ventos da Terra, que ajudariam a criança violentada sexualmente, enquanto um exército de palpiteiros de plantão saíram disparando julgamentos morais de um lado e de outro.

No final das contas, o odioso abuso sofrido pela criança, cometido por um PEDÓFILO ao longo de anos, bem como o sofrimento emocional e físico da menina vítima do monstro, perderam destaque diante do debate sobre o aborto e de ações oportunistas de personalidades e grupos feministas.

Aborto: risco para a mãe

Juridicamente, o aborto realizado na menina de 10 anos no domingo (16) foi ilegal devido ao tempo de gestação. Nos casos de estupro, a legislação prevê o aborto até a 22ª semana de gravidez, e neste caso a gestação já tinha mais de 5 meses, com o bebê pesando mais de 500g.

Segundo informações de bastidores que circulam pelas mídias, dado a natureza sigilosa do procedimento, esse foi um dos motivos pelos quais a equipe médica do Espírito Santo que atendeu inicialmente a menina “K” (forma como iremos nos referir a ela daqui em diante) se recusou a fazer o aborto.

O envio da criança para o Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros – CISAM, em Recife, se deu por causa de procedimento semelhante já realizado no local anos atrás, feito por um médico que se prontificou a fazer o aborto.

Consultada pelo Opinião Crítica, uma enfermeira obstetra com anos de experiência, especialista e Mestre em Saúde, e que já trabalhou no mesmo hospital, afirmou que clinicamente a vida da mãe e do bebê foram colocadas em risco.

A profissional não quis revelar seu nome por razões de privacidade, mas explicou que apesar dos riscos envolvidos, a vida da mãe sempre pesa mais do que a do bebê. No caso de “K” e de outras crianças, apesar do corpo desenvolver a gestação, ele faz um enorme esforço para conseguir sustentá-la, se readequando física e quimicamente para isso.

“É preciso olhar a estrutura física da criança”, disse a enfermeira obstetra. “Há crianças com 10 anos que possuem um corpo muito desenvolvido, enquanto outras parecem ter 8 anos de idade. Uma pode suportar, outra não”, explica.

No caso da gestação na casa dos 5 meses, a profissional explicou que o aborto é ainda mais traumático, visto que a criança precisa passar por um processo semelhante ao parto, mas nesse caso para expelir o bebê morto do seu ventre.

“O sofrimento é muito intenso”, disse ela. “É quase um parto, mas para retirar o bebê abortado, e isso no corpo de uma criança. Ou seja, um corpo que já não possui a maturidade física completa para a gestação, agora tendo que passar por um procedimento abortivo, algo extremamente agressivo”.

Em outras palavras, tanto a gestação, como o aborto são arriscados para a vida da mãe-criança. Na fase inicial da gestação o risco do aborto seria menor, isto é, dentro das 22ª semanas, mas ainda assim o procedimento continuaria sendo arriscado.

Questões morais

Moralmente, quem defende a vida não tem dúvida de que às duas vidas, da mãe e a do bebê, devem ser preservadas, pois entende-se que a vida gerada resultante do estupro não se confunde com o seu agressor. Ou seja, o bebê é inocente.

Defensores da vida, neste caso, aconselham que a gestação continue e o bebê nascido seja doado para adoção. Esta é uma forma de evitar com que a mãe vítima do estupro tenha a obrigação de criar o filho, ao mesmo tempo preservando a vida do inocente.

No caso de uma gestação de alto risco, como é a de “K”, o aborto pode ser realizado como forma de garantir a vida da mãe, a qual por já ser uma pessoa plenamente constituída possui, aos olhos do Direito e da Medicina, maior importância.

Todavia, aos 5 meses de gravidez o aborto passa a ser mais arriscado do que a própria gestação, fazendo com que a tese de prevalência do menor risco se torne inválida. A continuidade da gestação e um parto futuro através de cirurgia cesária seriam os mais seguros neste caso.

Respeito e bom senso

Diante desses fatos, o que vimos não foram atitudes em prol do respeito à vida e ao sofrimento da criança, mas a exploração do caso como forma de erguer bandeiras pró e contra a vida, custe o que custar.

Conservadores e religiosos erraram tanto quanto grupos feministas e abortistas. Se confirmada a veracidade de áudios de integrantes de grupo pró-vida discutindo com familiares da menina “K”, tentando persuadi-los sobre a continuidade da gestação, isto revela falta de bom senso e respeito sobre o caso.

Oferecer suporte, orientação e alternativas não se confunde com exercer pressão e juízo sobre o outro. É legítimo que grupos pró-vida façam a sua parte, buscando acolher às vítimas desses abusos, dando a oportunidade de lidar com a situação de forma a preservar a vida da mãe e do bebê, mas é um erro cabal fazer isso por meio da intimidação.

O ato em frente ao CISAM foi muito mais cenográfico do que moral. Cristo, o da Bíblia, não se confunde com esse tipo de militância. Estar presente, apresentar um lado, oferecer suporte e demonstrar compaixão para com os envolvidos na situação através de palavras sábias, e não de gritos, ameaças e julgamentos morais aleatórios, este seria o caminho.

Hipocrisia feminista

Grupos feministas diante desse caso agiram, mais uma vez, de forma oportunista. Estupros contra crianças e adolescentes existem aos milhares no país. A pedofilia é um monstro terrível que assola meninos e meninas, e o que vemos de ações de combate a essas atrocidades, vindas de abortistas? Vindas de quem diz defender os direitos das mulheres?

Quando a ênfase da preocupação é depositada mais na defesa do aborto como opção, do que no combate ao abuso sexual infantil e na punição dos abusadores, estamos diante de um cenário de hipocrisia, mas ele não existe por acaso.

Parte do problema tem a ver com a sexualização precoce de crianças e adolescentes, algo do qual a esquerda silencia. Exposições “culturais” com criança tocando homem nu, por exemplo, não foram repudiadas, mas sim elogiadas e defendidas como expressão “artística”. Onde estavam as feministas?

No mundo islâmico, casamento forçado, gravidez precoce e até a mutilação genital também são realidades brutais. Casos de meninas sequestradas para essa finalidade existem aos montes, todos os anos. O que tem feito às feministas?

Na prática, o aborto é uma vitrine para a exposição ideológica de pautas que visam promover a legalização da morte de bebês por livre e espontânea escolha. Casos como o da menina “K”, infelizmente, são usados como instrumento para reforço dessa narrativa.

Se a preocupação real fosse com a vida da criança, já teríamos aprovado no país leis mais rígidas contra a pedofilia. Nós veríamos a esquerda, em particular os grupos feministas, lutando contra a erotização precoce de crianças e adolescentes, e não a promoção de temas sexuais para alunos na sala de aula.

A criança precisa de privacidade

Por fim, diante de tudo isso, a maior vítima é a menina “K”, que em vez de publicidade, precisa mesmo é de privacidade e respeito. A sua identidade deve ser preservada, sua imagem e sofrimento.

Ela deve ser acolhida emocional, física e psicologicamente. Qualquer iniciativa contrária a isso expõe a criança a um sofrimento ainda maior, sendo mais uma forma de violência contra ela.

Se ativistas pró-aborto não entendem isso, os pró-vida devem entender e colocar em prática, sabendo diferenciar aconselhamento e acolhimento voluntário de assédio e julgamentos descabidos. Esta é a nossa opinião.