Uma matéria de grande importância publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo infelizmente confirma o que venho alertando há anos em minhas palestras, artigos e seminários: a saúde mental dos nossos jovens tem estado cada vez mas prejudicada na sociedade atual, de modo que até mesmo adolescentes e crianças estão desenvolvendo transtornos emocionais graves.

De acordo com a matéria, dados do Hospital Pequeno Príncipe, unidade de referência em pediatria no País localizada em Curitiba, capital do meu estado, Paraná, apontam um “aumento expressivo no número de crianças e adolescentes” que chegam à unidade após tentarem o suicídio.

“Em 2022, esse cenário piorou e o volume de casos do tipo atendidos no centro médico triplicou ante 2019. Chamou a atenção dos profissionais a idade cada vez menor das vítimas: quase 70% delas tinham 14 anos ou menos”, diz a reportagem.

Não quero focar nas estatísticas, porque infelizmente já as conheço e sei que o quadro é grave. Quero enfatizar o que pode estar levando ao adoecimento emocional dos nossos jovens, porque devemos urgentemente tratar as causas, e creio que só poderemos fazer isso com a participação ativa da família.

Faço questão de citar o que o próprio Estadão ouviu dos profissionais consultados, pois eles confirmam o que tenho repetido exaustivamente. Entre as principais causas apontadas para o aumento de suicídios entre os menores, estão:

“Negligência, em especial no ambiente familiar (incluindo o excesso de permissividade), o empobrecimento da relação dos jovens com pais e cuidadores e o uso excessivo da internet e das redes sociais são vistos como principais fatores associados à piora de transtornos mentais e ideação suicida entre crianças e adolescentes”.

O fator família

O que seria negligência “no ambiente familiar”? Afirmo com segurança que boa parte disso tem a ver com a sensação de abandono afetivo dos pais em relação aos filhos. Em outras palavras: falta de investimento em tempo de qualidade junto aos filhos.

A vida cada vez mais corrida, somada ao uso compulsivo das redes sociais por parte dos PAIS, tem produzido uma geração de filhos órfãos de afeto, muito embora estejam lotados de parafernálias materiais, especialmente as de vídeo.

Como resultado, os filhos estão substituindo a relação que teriam com os pais pelos algoritmos das internet, e estão adoecendo por isso, porque nada substitui a presença humana durante a formação de identidade e sentido de vida. A família é o maior referencial nesse quesito, e é justamente ela que tem sido dissolvida nesse aspecto.

Falta de limites

Outro elemento apontado é “o excesso de permissividade”. Ou seja, falta de limites! Esse é um problema tão grave que escrevi um livro inteiro apenas sobre esse tema [clique aqui para ver], chamado “Limites: O caminho para o equilíbrio emocional dos seus filhos”.

Muitos pais estão aderindo ao modismo geracional da criação com excesso de permissividade. Na prática, isto significa criar filhos e não educá-los. Quem educa, impõe limites, e esses limites são fundamentais para a formação de caráter e resiliência psicológica da criança/adolescente.

Todos esses elementos somados, negligência familiar sobre representação afetiva e falta de limites, além do uso excessivo da internet, realmente tem contribuído muito para o aumento de suicídios entre os jovens, o que é extremamente escandaloso e assustador.

Precisamos rever os costumes nocivos que temos desenvolvido nessa geração, e os pais estão no centro dessa mudança. Se uma criança ou adolescente pensa em tirar a própria vida, dificilmente há um problema especificamente nela. Na maioria absoluta das vezes, o menor é vítima de um contexto maior de sofrimento, e é ele que precisamos tratar, antes que seja tarde demais.

Fica o alerta.