Surgiu nas últimas semanas um movimento chamado “MãesContraFelipeNeto” nas redes sociais, após o início de um conflito judicial envolvendo a YouTuber Antonia Fontenelle e o também YouTuber Felipe Neto. Mas, qual é a importância disso para os pais em geral?

Não entraremos no mérito do que motivou o conflito entre Fontenelle e Felipe Neto, pois entendemos que a reação de mães, na verdade, vai muito além dele. Ela diz respeito ao conjunto de conteúdos publicados pelo jovem que alcançou riqueza inicialmente com o público infantil, o qual ainda lhe segue e é, portanto, influenciado por ele.

Muito antes que o movimento #MãesContraFelipeNeto ganhasse força, figuras como a jornalista Patrícia Lages e a psicóloga Marisa Lobo já haviam alertado sobre a influência dos conteúdos produzidos pelo youtuber na internet.

“Em seus vídeos no YouTube (…) o rapaz grita, xinga, fala palavrões como vírgulas, incita o bullying e, além disso, revira os olhos e ataca quem pensa diferente dele”, criticou Lages em um artigo para o R7.

“Felipe quer educar, afinal, ele também ensina! Há um vídeo em que ele orienta seus seguidores menores de idade a criarem uma conta falsa no YouTube para poderem assistir conteúdos para maiores de 18 anos”, destacou a jornalista.

Em 2019, Marisa Lobo chegou a ser atacada pelo youtuber, após afirmar que ele é uma “péssima influência”. A posição da psicóloga repercutiu tanto que ele gravou um vídeo onde divulgou uma fake news, acusando-a de defender a “cura gay” e citando a sua fé “fundamentalista”.

“Vi pessoas compartilhando uma psicóloga que afirma que eu sou péssima influência para jovens e ensino palavrões e coisas erradas. Essa psicóloga é uma fundamentalista cristã reacionária, defensora da ‘cura-gay’ e quase foi cassada em 2015”, disse Neto na ocasião. Marisa, por sua vez, disse na época que iria processar o youtuber por calúnia.

Felipe Neto: má influência?

Afinal, a questão é: Felipe Neto é ou não uma má influência para os jovens?

Essa é uma resposta que depende do que cada indivíduo considera boa ou má influência. Naturalmente, para o público conservador e, diga-se de passagem, de bom gosto, ele pode não apenas ser uma péssima influência, como produzir conteúdos completamente inúteis, ou pelo menos em sua maioria.

Mas, para outras pessoas, o fato de Felipe Neto gravar um vídeo onde comenta se um pênis grande ou pequeno é bom ou ruim, fala do seu próprio órgão sexual e diz que um “pau” grande não serve para “garganta profunda”, é algo bom e útil [vídeo aqui]. É gosto? É opinião? Não deixam de ser.

Felizmente há gosto bom e ruim, assim como educação boa e ruim, cultura boa e ruim. Do contrário, se tudo fosse “bom” por ser relativo ao “gosto” de cada um, até o gosto de um serial killer ou de um pedófilo estariam justificados, certo? É por isso que julgamentos éticos/morais existem.

É por isso que, no âmbito desses julgamentos de natureza moral, reações como o movimento de mães contra Felipe Neto e opiniões como às de Patrícia Lages e Marisa Lobo são legítimas, pois elas contemplam a visão de uma parte da população, assim como o próprio youtuber atende outra parcela, caso contrário não teria a fama que tem.

O lugar da família

Por fim, fale destacar que apesar do movimento #MãesContraFelipeNeto ser legítimo em um Estado Democrático de Direito, bem como às críticas contra o dito youtuber, esta é uma reação tardia perante o que hoje representa o influenciador digital.

O movimento causa efeitos, sim, porém, muito mais como um alerta aos pais do que como um impedimento em relação ao trabalho do Felipe Neto. Ele continuará fazendo o que sabe fazer e o que lhe é de direito, fato.

A questão é: por que conteúdos como os produzidos por Felipe Neto e outros semelhantes ou piores do que ele ganham tanto espaço na mente dos jovens? O que há de tão atrativo em figuras como o youtuber, para que isto seja suficiente para lhe render fama e riqueza?

Qual é a responsabilidade dos pais diante da preferência dos próprios filhos na internet? O que crianças e jovens consomem na internet não seria um reflexo direto do que eles recebem como valor e educação dentro do ambiente familiar?

Até que ponto cabe a nós investir tempo para criticar figuras como o Felipe Neto, quando não temos um olhar crítico para dentro do próprio lar, por exemplo, sobre as relações de confiança e afetividade com os próprios filhos, pais e irmãos?

Não seria o sucesso e a influência de Felipe Neto apenas um exemplo dos frutos gerados por uma geração de pais e mães que possui dificuldade de entender o que é família, educação dos filhos e boa cultura?

Estas são algumas questões que devemos refletir, a fim de aperfeiçoar o nosso olhar crítico sobre a sociedade atual, pois não basta ser “contra” o Felipe Neto. Ele, por si só, muito provavelmente é só mais um jovem perdido buscando se achar no mundo, onde encontrou nas redes um canal de expressão, assim como milhões de outros.

É preciso entender o que fez/faz com que conteúdos produzidos por ele tenham espaço na mente e nos corações dos nossos jovens. Neste sentido, o próprio Felipe Neto é digno de atenção, não para consumo do que ele produz, mas para a compreensão do que ele representa.