O ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, conversou com o apresentador Luciano Huck, da Rede Globo, sobre “o Brasil, o cenário” político, segundo o ex-juiz da Lava Jato, o que levantou a especulação de que ambos estariam planejando formar uma chapa para a disputa presidencial de 2022.

“Foi só uma conversa. Eu já conhecia o Luciano faz um tempo. Nós nos encontramos e conversamos apenas sobre o Brasil, o cenário, mas não existe nada pré-determinado”, disse ele, segundo O Globo.

Moro e Huck: um desastre precoce

A possibilidade de uma chapa com Moro e Huck pode animar algumas pessoas, especialmente os chamados “isentões”, mas a verdade é que a dupla já nasceria com grande possibilidade de fracasso, e isso por um motivo que destacamos abaixo:

O mundo atual é de posições

Como já é possível notar no “marinês” de Moro – sempre buscando se esquivar de assumir posições claras sobre determinados assuntos -, a narrativa da possível dupla seria a de que ambos seriam uma terceira via contra a “polarização.”

Acontece que o que eles e muitos criticam como algo ruim, na verdade, se trata de um filtro ideológico que vem se tornando cada vez mais evidente nos últimos anos, de modo que a tomada de posição (lado) é uma consequência natural às reações da ambiguidade, do falso moralismo e das falsas narrativas.

Em um país como o Brasil, por exemplo, o “centro” nunca existiu. Politicamente a esquerda sempre governou, tanto que bastou o primeiro governo realmente de direita surgir para que fosse absurdamente atacado, inclusive com uma tentativa de assassinato contra o seu candidato, o então deputado Jair Bolsonaro.

A “polarização”, na verdade, é uma reação natural à ilusão de que é possível governar agradando a gregos e troianos, ou, acendendo uma vela para Deus e outra para o diabo. Acreditamos que a maioria dos brasileiros entendeu isso, por isso o cenário atual está mais claro. O que para eles é “extremismo” ou “divisão”, para nós é DEFINIÇÃO.

Com isso, a narrativa de Moro e Huck de que o Brasil precisa de uma opção contra a polarização, na verdade, só agradaria os chamados “isentões”, grupo de pessoas que acreditamos estar muito longe de ter força suficiente para eleger um presidente da República.

Até mesmo os isentões mais inclinados para a direita poderão desacreditar na chapa Moro e Huck, visto que pelo passado de ambos, sobre o que já demonstraram acreditar em termos de valores, os dois já deram indícios suficientes de que são, na verdade, de centro-esquerda – ou seja, o mesmo que ser da “esquerda moderada”.

A “esquerda raiz”, por sua vez, dificilmente apoiaria o algoz do ex-presidente Lula, o ex-juiz da Lava Jato, ou mesmo a figura de playboy riquinho do Luciano Huck. Partidos como o PT, PSOL e PCdoB, ou mesmo o PDT, de Ciro Gomes (crítico de Moro), precisariam literalmente se converter ideologicamente para apoiar os dois.

O fator Bolsonaro

Com um projeto político possivelmente já fracassado por natureza, Moro e Huck só teriam alguma chance em 2022 dependendo de variáveis muito significativas, como casos de corrupção envolvendo o presidente Jair Bolsonaro, ou outros escândalos sobre questões morais.

Eles teriam como apoio setores da elite brasileira, da grande mídia, os isentões e uma pequena parcela de ex-bolsonaristas. A grande massa da população, contudo, realmente capaz de eleger um presidente, não é formada por esse público.

A grande massa eleitoral é formada por pessoas simples, religiosas, conservadoras e militantes. São pessoas que o discurso polido e ambíguo de Moro não alcança, e que de Luciano Huck só interessa o “Caldeirão”. Esse é o público que hoje se divide entre a esquerda e a direita.

No mais, sem corrupção ou escândalos morais, se o governo Bolsonaro se mantiver no curso atual, ganhando cada vez mais popularidade especialmente em regiões como o Nordeste, não vemos chance alguma para Moro e Huck em uma disputa contra o atual presidente.

A tendência é que, no decorrer do tempo, a possível parceria Moro-Huck se revele mesmo como a “chapa lacração”, composta por um ex-ministro que abandonou o governo de forma vexatória, aparentemente motivado por uma ambição maior que o próprio ego, e por um milionário que não é conhecido por nenhum grande feito ao país, senão por ser animador de palco.