O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, concedeu uma entrevista esta semana afirmando que o governo do presidente Jair Bolsonaro estaria dando indícios de que já não está mais combatendo a corrupção.

“Sinais de que o combate à corrupção não é prioridade do governo foram surgindo no decorrer da gestão. Apontei todos. Incomodei muita gente. Praticamente implorei ao presidente que vetasse a figura do juiz de garantias [entenda aqui], mas não fui atendido”, disse o ministro.

A declaração de Moro foi dada com exclusividade para a revista Veja. Esta já é a segunda manifestação em uma mídia de grande repercussão em menos de uma semana, feita pelo ex-ministro, o que chama atenção pelo fato do mesmo ter sempre demonstrado uma postura discreta durante a sua gestão no governo Bolsonaro.

Moro se contradiz

Outro elemento que chama atenção na atual posição de Sérgio Moro se deve ao fato do mesmo ter dito há menos de cinco meses atrás, em dezembro de 2019, que há “avanços” no combate à corrupção no governo Bolsonaro.

Na ocasião, Moro comentou sobre à aprovação do pacote anticrime, destacando a sua discordância com a inclusão do chamado “juiz de garantias” no texto, mas deixando claro que o conjunto de propostas representou um avanço para o país.

“Sancionado hoje o projeto anticrime. Não é o projeto dos sonhos, mas contém avanços. Sempre me posicionei contra algumas inserções feitas pela Câmara no texto originário, como o juiz de garantias. Apesar disso, vamos em frente”, escreveu o ministro.

Moro ainda acrescentou: “É um excelente texto e nada inconsistente com o teor originário do projeto anticrime. Como disse, apesar do juiz de garantias, há avanços.”

Em sua entrevista para a Veja, por outro lado, Moro fez parecer que a inclusão do juiz de garantia teria sido responsabilidade total do presidente Jair Bolsoanro, quando acima podemos observar que ele reconheceu ter se tratado de “inserções feitas pela Câmara no texto originário”. Ou seja, foram deputados que incluíram a medida, e não o presidente.

É verdade que Bolsonaro poderia ter vetado a proposta, mas sob o risco de ter todo o pacote anticrime rejeitado pela Câmara. Esse foi o principal motivo, segundo aliados do presidente, do juiz de garantias ter permanecido no pacote. Entenda melhor aqui.

O fato é que mesmo com o juiz de garantias, Moro reconheceu que há “avanços” no combate à corrupção durante a gestão Bolsonaro. Por qual motivo, então, só agora, poucos meses depois, o ex-ministro afirma que há “sinais de que o combate à corrupção não é prioridade do governo”?

Sem dúvida alguma parece uma contradição ou, no mínimo, uma mudança drástica de visão e comportamento de Sérgio Moro. Resta saber o que teria realmente lhe motivado para esta mudança: corrupção no governo, futura candidatura à presidência da República ou a recusa de uma vaga no STF?