Criticar o presidente Jair Bolsonaro por se aproximar cada vez mais do “centrão” é algo legítimo, mas também é coerente? Ora, já apresentamos alguns argumentos para explicar o que para nós a indicação do senador Ciro Nogueira para a Casa Civil significa (veja aqui), e por isso dessa vez o foco da opinião crítica será outro: o eleitor!

O brasileiro passou décadas sem ter conscientização política por ideais. O que tínhamos era uma consciência política de conveniência, interesses. Pensávamos a vida pública nos mesmos moldes de quem se acostumou a usar o dinheiro público para se beneficiar, corromper e se perpetuar no poder.

Daí o famoso “jeitinho brasileiro” e a compra e venda de votos, algo tão popular até hoje em muitas regiões do país. Às grandes mobilizações do passado, como pelo impeachment do ex-presidente Fernando Collor, não foram motivadas por um sentimento patriótico, mas por conveniência econômica e não por uma visão de país.

Essa visão atrofiada da política começou a mudar com a disseminação da informação através das redes sociais, entre 2012 e 2013, se tornando algo consolidado desde então, o que resultou o impeachment de Dilma Rousseff, este sim, motivado não apenas por questões econômicas, mas por um ideal de país: um Brasil livre das garras da esquerda, o que se repetiu em 2018.

Todavia, o brasileiro parece ainda não ter entendido a importância da amplitude da necessidade de renovação política de que precisamos para poder mudar estruturalmente o complexo cenário da política nacional. Como resultado, muitas figuras da velha política continuaram se elegendo, compondo o Congresso que aí está.

O que explica, por exemplo, que pessoas como Renan Calheiros tenham sido eleitas em 2018 para o Senado Federal, mesmo já havendo vários inquéritos abertos contra ele no Supremo Tribunal Federal? O mesmo vale para Omar Aziz. O resultado estamos vendo agora: a CPI dos Horrores.

Estes são apenas alguns exemplos entre tantos, estando a maioria na Câmara. O “centrão” do qual Bolsonaro se aproxima, portanto, é o resultado direto de quem o elegeu. Não é culpa do presidente ser obrigado a dialogar com figuras duvidosas no Parlamento, considerando que sem esse diálogo a sua própria governabilidade estará em risco.

Se não é para se ajoelhar oferecendo o pescoço, mas sim dialogar e chegar a acordos legítimos (sem corrupção), essa proximidade é necessária e não adianta o eleitor reclamar. O que lhe resta é tratar de eleger, no futuro, pessoas devidamente alinhadas ao presidente, de forma que sejam estas a maioria e não a minoria, como é atualmente.

Resta também, como dito anteriormente, ter uma visão de país e não de ocasião. Isso exige um olhar estratégico, paciente e compromissado com um projeto de longo prazo. Você já imaginou, por exemplo, o que significa para o país o atual presidente poder indicar até 5 ministros para o Supremo Tribunal Federal (STF), caso seja reeleito em 2022? É o que poderá acontecer, conforme explicado aqui.

Se o STF hoje é considerado por muitos uma espinha dorsal nos rumos do país, poder alterá-lo significativamente pode ser o grande objetivo a ser perseguido por quem apoia este governo, e isso novamente nos leva a compreender a necessidade de ter paciência, visão estratégica e compromisso com a eleição futura dos deputados e senadores certos.