Vinícius Guerro, o suposto jornalista ligado ao PDT que pediu o assassinato do presidente Jair Bolsonaro e sua família em um vídeo, tentou se justificar durante uma entrevista, alegando que estava indignado com a situação do Brasil e por isso teria cometido exageros ao pedir a morte do chefe de Estado brasileiro.

A declaração de Vinícius Guerrero foi dada pouco tempo depois que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, pedir à Polícia Federal que abrisse um inquérito para investigar o ativista, uma vez que ele teria cometido os crimes de incitação à violência e violação da Lei de Segurança Nacional, já que o mesmo também pediu um levante armado contra o Estado brasileiro.

“Eu andava muito indignado, ainda ando. Alguns problemas ocorreram na minha vida pessoal de duas semanas para cá. Naquele dia, 30 de julho, era uma terça feira, eu tinha acabado de fazer um trabalho de base numa comunidade, um trabalho voluntário, e ali eu vi muita pobreza”, disse Vinícius Guerrero ao ser questionado sobre o motivo de ter feito a gravação do vídeo.

A entrevista foi realizada pelo Estadão, seguindo um roteiro de perguntas que sugere nitidamente o interesse do editorial de favorecer o entrevistado, lhe dando a oportunidade repetidas vezes de afirmar que estaria arrependido por pedir o assassinato de Bolsonaro e seus filhos. 

Questionado se teria a intenção de assassinar o presidente Bolsonaro, Vinícius Gerrero negou:

“Não, eu não tenho nenhuma vontade disso, nem essa ideia. Aquilo foi um grito mesmo de ‘chega’. Eu não tenho vontade de fazer uma violência dessas”, disse ele, afirmando na sequência que estaria “muito” arrependido e que está à disposição da Polícia Federal para esclarecimentos, desmentindo boatos de que estaria foragido.

Guerrero contou que após fazer um trabalho social em uma comunidade carente, chegou em casa e viu uma declaração de Bolsonaro sobre o pai de Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, desaparecido durante o regime militar. Por causa disso ele teria ficado indignado e cometido “excessos” na gravação.

“Minha indignação foi resultado dessa combinação: passei um dia inteiro na comunidade, no meio da miséria absoluta, e depois ouvi aquilo que o presidente falou sobre o pai do Felipe Santa Cruz. Essa combinação deu esse pico sim, mas já tem algum tempo que eu ando estressado”, disse ele.

Vinícius Guerrero diz estar com medo

O suposto jornalista, tratado pela grande mídia como um simples “youtuber”, passando, assim, a impressão para a sociedade de que se trata de uma pessoa qualquer usando uma plataforma social, e não um ativista político com filiação partidária e influência entre figuras de peso, como o ex-candidato à presidência da República Ciro Gomes, disse estar sofrendo ameaças.

“As ameaças me assustam, estou com medo. Eu me deixei contaminar pelo discurso da intolerância raivosa. Foi um ato de desespero”, disse Vinícius Guerrero. “Da semana passada para cá as ameaças foram muito grandes, muitas no celular, pelas redes sociais também. Por isso fechei as redes”.

“Sou filiado ao PDT, mas depois desse evento infeliz me afastei para preservar o partido. Me desliguei da presidência do Movimento Comunitário Trabalhista (MCT). De fato, eu não sou muito simpático ao Bolsonaro, mas se ele fizesse um bom governo eu não teria porque falar contra ele da forma como falei”, completou o ativista.

Incitação ao assassinato de Bolsonaro foi consciente

Às palavras de Vinícius Guerrero na entrevista ao Estadão parecem ter sido orientadas pelo seu advogado, ninguém menos do que o renomado criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira. Com 50 anos de advocacia, Mariz resolveu assumir o caso do ativista.

Ao que parece, quem resolve atacar a pessoa do presidente Bolsonaro conta com a estranha voluntariedade de advogados de peso em sua defesa, ou pelo menos pessoas anônimas dispostas a financiá-los, como foi o caso do agressor Adélio Bispo de Oliveira, que tentou matar o então presidenciável em setembro de 2018, e no dia seguinte já contava com uma equipe de defensores de alto nível.

Mariz, que também já foi advogado do ex-presidente Michel Temer, de quem é amigo, segundo O Antagonista, parece ter exigido a declaração pública de arrependimento de Vinícius Guerrero para poder assumir a causa. “Na medida em que ele disse ter se arrependido concordei em assumir o caso. Eu não iria defender quem quer assassinar alguém”, disse o advogado, segundo o Estadão.

Finalmente, o que a Justiça pode levar em consideração como motivo suficiente para a condenação de Vinícius Guerrero, por incitação ao assassinato de Bolsonaro, é o seu ato consciente diante das palavras que disse, tando que ele próprio chegou a reconhecer como um “crime” o que estava fazendo, conforme denúncia feita pelo Opinião Crítica anteriormente.

Arrependimento posterior a um crime não isenta o acusado da culpa por tê-lo cometido. Caso contrário, mais da metade dos presos que hoje cumpre pena nos presídios poderia ser absolvida. Muitos que cometem crimes de violência também procuram justificar seus atos usando o “contexto”, a “indignação” ou um momento de “excesso” de raiva.

No caso de Vinícius Guerrero, ainda pesa contra ele a incitação de um levante armado contra o Estado brasileiro, onde o mesmo fala explicitamente sobre a necessidade de se pegar em armas e atacar os militares do país, citando a Venezuela como possível aliada nessa “guerra civil”. Aqui, se trata de violação da Lei de Segurança Nacional, medida também considerada pelo ministro Sérgio Moro.