A indicação do presidente Jair Bolsonaro do senador Ciro Nogueira para a Casa Civil causou surpresa em muitos apoiadores do governo. Afinal, como explicar a entrega de um cargo de máxima confiança para alguém que em 2018 fez campanha explícita a favor do Partido dos Trabalhadores (PT)?

Naquela ocasião, em 2018, Nogueira chamou Bolsonaro de “fascista”, declarou apoio a Lula e ao seu poste, o Fernando Haddad. “O Bolsonaro, eu tenho muita restrição, porque é fascista, ele tem um caráter fascista, preconceituoso, é muito fácil ir para a televisão e dizer que vai matar bandido”, afirmou ele em uma entrevista à TV Meio Norte.

Diante disso, a pergunta é: a indicação de Bolsonaro significa rendição ao velho jogo político, precisamente ao “centrão” do qual fez parte no passado, ou seria uma estratégia friamente pensada e calculada no complexo xadrez da política brasileira?

Talvez a questão fique mais clara se questionada de outra forma, agora pela perspectiva da “arte da guerra”, o que geralmente é o que determina o pensamento de um militar na hora de tomar decisões, especialmente figuras que foram treinadas para assumir o título de capitão, exatamente como o presidente.

A questão reformulada, é: se você tem consciência de que boa parte dos seus inimigos estão fazendo uma articulação para sabotar a batalha, a fim de lhe destruir ou no mínimo lhe enfraquecer ao máximo, o que seria melhor?

Opção 01 – Esperar entrincheirado junto aos poucos aliados e partir para o tudo ou nada quando a hora do confronto chegar, sabendo que as suas chances estarão reduzidas por causa da sabotagem em curso;

Opção 02 – Reagir agora, buscando seduzir potenciais inimigos futuros para minar a força de reação do adversário numa eventual batalha decisiva de vida ou morte lá na frente.

Ora, para quem imaginou que essa batalha decisiva seria a eleição de 2022, está enganado, e o motivo é simples: quem decide eleição é o povo, e isso Bolsonaro sabe que tem a maioria ao seu lado. O presidente não está preocupado se será ou não eleito pela vontade popular. A preocupação é outra!

A preocupação de Bolsonaro está na batalha que representa o CAMINHO até às eleições de 2022, onde a oposição já faz e continuará fazendo de tudo para fazer com que o presidente nem mesmo chegue a disputar o pleito.

Em outras palavras, Bolsonaro está com os olhos focados na sabotagem do inimigo que se desenha pela frente, e ele sabe que ela poderá surgir, por exemplo, através da CPI da Pandemia, bem como de outros poderes, incluindo uma possível interferência do Judiciário sobre decisões envolvendo pedidos de impeachment.

Ao dar poderes a Ciro Nogueira, como um exímio articulador do centrão que é, o presidente está trazendo para perto de si uma peça-chave que poderia ser utilizada pela oposição no futuro, por exemplo, para barrar ou fazer avançar medidas contra o governo na Câmara e no Senado.

Ciente disso, Bolsonaro está avançando algumas casas no xadrez para se precaver, usando para isso um cargo de poder como forma de seduzir uma figura que poderá frear o avanço dos inimigos no momento atual.

Como os eleitores devem reagir?

Na prática, o que importa para os aliados do governo e eleitores em geral, não é o nome que ocupa o cargo, mas o que esse nome FAZ no cargo. Se Ciro Nogueira estiver submetido à visão do governo de forma que passe a colaborar com suas pautas, isso é o que interessa NESTE momento.

Se ele vacilar, Bolsonaro continuará tendo a opção de substituí-lo, mas até então não é possível cravar que a indicação de Nogueira para a Casa Civil é um erro do presidente. É preciso deixar o xadrez se mover.

Pelo explicado, portanto, a resposta ao nosso questionamento é a Opção 2. Entendemos que essa indicação se trata de um gesto de confiança que visa fomentar a “conversão” de Nogueira aos ideais do governo, bem como minar a força da oposição trazendo para perto de si potenciais grandes inimigos futuros. Se estamos certos ou errados nessa análise, o tempo dirá.