É exatamente o que você leu no título desse artigo. A escolha de Bolsonaro pelo ministro Tarcísio de Freitas para a disputa pelo governo de São Paulo, em 2022, é puramente estratégica e tem como objetivo a disputa presidencial em 2026. Antes de se precipitar nas conclusões, vamos aos argumentos?

Primeiramente, este não é um texto que visa criticar o ex-ministro Abraham Weintraub. Pelo contrário, a intenção aqui é oferecer uma avaliação de perfis e contextos, a fim de colaborar para a criação de um cenário mais favorável para a direita brasileira como um todo, e não em partes.

Tarcísio e Weintraub são dois nomes fortes para a disputa do governo paulista, uma vez que ambos possuem apoio popular. Os dois possuem qualificações acadêmicas e profissionais que se destacam e prestígio entre os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Todavia, o que explica a escolha de um, e não do outro, por parte do chefe do Executivo?

Segurança política em tempos de crise

São Paulo é o maior reduto eleitoral do Brasil, assim como o estado industrialmente mais importante do país, possuindo o maior PIB interno entre os demais. Politicamente falando, em termos de influência, abaixo do presidente da República não estão os líderes da Câmara ou do Senado, mas o governador paulista.

Quem governa São Paulo tem nas mãos o poder de impactar o rumo da indústria nacional e de várias outras pautas politicamente importantes, pois a influência do estado sobre os demais entes federativos chega a ter a força de um pequeno país.

Vivemos em um contexto de pandemia, onde a escalada do autoritarismo, da interferência de outros poderes e até de forças externas em nível mundial, estão tendo a capacidade de interferir na política nacional a ponto de destruir reputações, promover perseguições, criminalizar opiniões e até de prender pessoas.

Por mais honesto e bem intencionado que seja o ex-ministro Abraham Weintraub, o seu passado de posicionamentos polêmicos o transformou em um outsider que, nesse contexto, representa muito mais o risco de derrota do que de vitória em uma eventual disputa pelo governo de São Paulo.

Isso porque, além da ala ideológica conservadora mais fiel, o colégio eleitoral paulista é composto por um grande número de empreendedores, empresários de pequeno, médio e grande porte, os quais não querem ver seus negócios passarem por novas instabilidades devido a confrontos políticos intermináveis entre um governador “polêmico” e uma oposição raivosa disposta a tudo.

Tarcísio de Freitas, por outro lado, não possui a sua imagem associada a quaisquer polêmicas. Pelo contrário, ele ganhou a fama de ser um dos melhores, senão o melhor ministro do governo Bolsonaro.

O empresariado enxerga Tarcísio como sinônimo de eficiência, trabalho e extrema dedicação, devido ao seu histórico de feitorias no Ministério da Infraestrutura. Com isso, uma parte decisiva do colégio eleitoral paulista, que é o setor industrial, já parece estar convencida em relação à candidatura do ministro.

Outra parcela significativa é a dos indecisos e não bolsonaristas. Esse público, que podemos classificar como o “isentão”, dificilmente votaria em uma figura como Weintraub pelos motivos já citados anteriormente. Devido ao lado técnico e ideologicamente mais reservado demonstrado ao longo do seu trabalho, Tarcísio parece ter muito mais chances de conquistar esse voto.

Construção de base legislativa

Além de parecer apostar em uma candidatura politicamente mais segura para o governo de São Paulo, outra estratégia muito bem pensada parece estar sendo encaminhada por Bolsonaro, que é a construção de uma base legislativa alinhada ao seu governo.

Não é por acaso que Bolsonaro vem levantando nomes para a Câmara e o Senado, aos poucos, entre os seus próprios quadros e também entre alguns influenciadores. É aqui onde Weintraub deveria entrar.

Deveria, apenas porque até o momento o presidente não se manifestou sobre uma eventual candidatura de Weintraub à Câmara ou ao Senado. Porém, isso ainda poderá ocorrer, talvez se o ex-ministro passar a demonstrar interesse nessa disputa, em vez de alimentar os rumores sobre um possível racha com Tarcísio.

Diferentemente de um governo do porte de São Paulo no atual contexto de crise, a figura do ex-ministro da Educação se encaixaria perfeitamente em algum cargo parlamentar, onde poderá agir com maior liberdade.

Na Câmara ou no Senado, Weintraub teria imunidade parlamentar (solapada, mais ainda existente) para se posicionar abertamente sobre tudo o que pensa e deseja para o país. Poderá criar projetos, integrar comissões, articular votações e ter várias outras iniciativas de grande importância.

Além disso, sem dúvida Weintraub terá mais chances de vitória se disputar uma vaga no Senado ou na Câmara, em vez da candidatura ao governo de São Paulo, onde poderá sair derrotado e ter a sua imagem desgastada de forma desnecessária, apenas por precipitação.

De olho em 2026

Outro motivo que pode explicar a escolha de Bolsonaro por Tarcísio de Freitas para o governo paulista é a disputa presidencial em 2026. No mundo político, todos sabem que quem governa São Paulo se torna, automaticamente, um nome visado para uma eventual disputa à presidência da República.

Consequentemente, não há motivo para duvidar de que Bolsonaro realmente esteja considerando preparar Tarcísio de Freitas para ser o seu sucessor em 2026, caso seja reeleito em 2022. Não haveria motivo para pensar diferente, considerando a força política do governo paulista.

Se esta tese estiver correta, a explicação está nos mesmos motivos levantados anteriormente. Bolsonaro estaria, agora, apostando na figura de uma pessoa que aparenta ter maiores chances de vencer em 2026, caso consiga implementar um ritmo de trabalho, em São Paulo, igual ao que colocou na Infraestrutura.

Isto não significa que em 2026 outros bons nomes não possam existir. Significa apenas que Bolsonaro pode estar buscando se precaver desde já, preparando o terreno para garantir a eleição presidencial de alguém em quem confia para vencer lá na frente. Alguém que, embora de forma discreta, defenda os mesmos valores da direita e do conservadorismo.

Conclusão

Erra quem trata a escolha de Bolsonaro por Tarcísio como sendo uma traição contra Weintraub, assim como erra quem tenta desqualificar qualquer um dos potenciais candidatos, apenas por questões de preferência pessoal.

O assunto deve ser interpretado pela via política, estrategicamente, a nível de Brasil, com o olhar no cenário de instabilidade institucional e também no futuro, pois essa deve ser a linha de raciocínio do presidente da República, que agora está apostando mais em um perfil técnico e discreto, em vez de alguém cuja fama poderá colocar o seu projeto a médio e longo prazo em risco.