O ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, concedeu mais uma – entre tantas em tão poucos dias – entrevista, onde voltou a atacar o governo Bolsonaro, e isto em tom político, tendo em vista que, juridicamente, o homem que já foi considerado ícone da operação Java Jato agora não oferece ameaça ao Planalto, considerando o fracasso das suas últimas investidas.

Para a revista Crusoé, Moro fez uma série de conjecturas: “O que se dizia no Planalto era que a soltura do Lula era bom politicamente para o presidente. Isso foi dito. Eu sou um homem de Justiça, um homem de lei, e não acho que um cálculo político pode ser envolvido nisso”, disse ele.

Como “um homem de lei” assim apresentado, Moro decepciona ao fazer afirmações aleatórias com claro viés sensacionalista. Mas há uma explicação: ciente de que juridicamente não possui condições de vencer o embate contra Bolsonaro, o ex-ministro partiu para uma guerra de narrativas, a fim de tentar sustentar às acusações que fez no dia 24 de abril de forma extraoficial.

Moro sabe que mesmo derrotado juridicamente conseguirá holofotes e o apoio necessário para se manter vivo politicamente fazendo uso apenas de um arsenal de… fofocas! É assim que se denomina o conjunto de falatórios “soltos”, sem o amparo de fatos comprováveis, tendo como maior interesse a reprodução de polêmicas.

Fofoqueiro-mor

O número de contradições de Sérgio Moro em menos de cinco meses é tão grande que já podemos apelidá-lo de fofoqueiro-mor, pois não há quem, em sã moralidade, mude tão radicalmente de perspectiva acerca de um governo quando o defendia explicitamente há três meses antes de renunciar o seu cargo.

Duvida? Leia o artigo da psicóloga Marisa Lobo publicado em sua coluna no Opinião Crítica, intitulado: “Mudança radical em 3 meses na postura de Moro indica contradição ou mentira.

Observe por exemplo o que Moro disse para a Crusoé: “No que se refere à agenda anticorrupção, de fortalecimento das instituições e aprimoramento da lei para tanto, sim (o governo se afastou), e já faz algum tempo.”

“Já faz algum tempo”, disse ele, certo? Agora, compare essa declaração com a fala do ex-ministro dita em 27 de janeiro desse ano, portanto, apenas quatro meses atrás praticamente, contando de hoje:

“Vou apoiar o presidente Jair Bolsonaro, ele quer a reeleição. O presidente está dando apoio às políticas da pasta [de Justiça e Segurança Pública]. Ele está honrando o compromisso que assumimos juntos.

Estranho, não? Moro também disse: “A lei Anticrime tem muita coisa importante (…), inseriram questões que não eram da minha concordância. Mas tem coisas que são contornáveis por interpretação do juiz. Essa é uma lei importante para o país que tem mais avanços do que retrocessos.

É avanço ou retrocesso? Ambos não dá, certo? Por isso ele foi claro ao falar de “avanços”! O mesmo comportamento inspirado na bipolaridade moral observamos na questão das “fake news” e ataques à imprensa, vejam só! 

Também em janeiro desse ano, Moro defendeu claramente o presidente Bolsonaro no tocante à liberdade de imprensa, o que contraria uma das teses centrais dos críticos atuais quanto ao modo como o governo lida com a produção de informações jornalísticas.

“O que vi nas eleições passadas, é que você tinha um grupo falando que iria regular imprensa, cercear a liberdade da imprensa e do judiciário. E do outro lado, vejo o presidente dando ampla liberdade à imprensa. É claro que isso é um dever, uma obrigação constitucional do presidente, mas você não vê qualquer atitude do presidente tentando cercear a liberdade de imprensa“, disse ele, segundo o UOL.

Finalmente…

A lista de indícios que revelam a profunda contradição no comportamento de Sérgio Moro em um curto espaço de tempo é impressionante e frustra qualquer admirador, não do atual Moro, mas do antigo juiz da Lava Jato que, felizmente, teve seus processos validados por diferentes instâncias, pois caso contrário suas sentenças certamente já estariam sendo derrubadas a essa altura.

Em sua entrevista para a Crusoé, Moro novamente não trouxe nada de novo. Amontou declarações especulativas contra o governo e ainda se contradisse, mais uma vez, através de uma publicação no Twitter, onde afirmou que a sua intenção não foi a de “criticar”.

“Concedi entrevista à Crusoé sobre minha saída do Governo. Espero que ela motive o PR a se empenhar de fato na construção de uma agenda anticorrupção junto ao Congresso e a preservar a autonomia das agências policiais. O propósito não é criticar, mas construir”, afirmou.

É muita contradição no discurso de alguém que, agora, além de fofoqueiro-mor, parece ter atuado como um perfeito Cavalo de Troia em nome de causa própria.