Visando uma possível disputa pela presidência da República em 2022, Ciro Gomes vem reiterando algumas críticas ao ex-presidente Lula. Esse comportamento, evidentemente, possui uma estratégia muito clara: se apresentar como a tão falada “terceira via” entre o petista e Bolsonaro.

Ciro sabe que se unir a Lula seria o mesmo que se dispor a lamber às suas botas. O líder petista é megalomaníaco o suficiente para não admitir ceder espaço para outro protagonista da esquerda brasileira em seu lugar, salvo fosse um poste igual a Fernando Haddad, e isso em caso extremo, como na ocasião da sua prisão, em 2018.

O “Coroné” Ciro, como também é chamado por críticos, possui um perfil incapaz de dividir espaço de autoridade com Lula. Uma eventual chapa com os dois se tornaria uma disputa de egos que certamente dividiria ainda mais uma esquerda já dividida. Seria uma boa composição para campanhas de marketing, mas um fracasso funcional.

Sendo assim, tudo o que resta para ambos é tentar chamar atenção cada qual ao seu próprio estilo, a fim de atrair apoiadores. Do lado de Ciro, seu objetivo é passar uma imagem de opção moralmente correta se comparada ao adversário petista. É por isso que ele vem batendo na teclada do Lula “corruptor”.

Do lado de Lula, o sindicalista aposta no seu poder de articulação político-partidária somado ao núcleo da esquerda radical, a qual sempre foi, historicamente, “liderada” pelo PT. Estamos falando de siglas como o PSOL, PCdoB e o PCO. No meio da corda estão os partidos que podem definir para qual lado os grupos de centro e centro-esquerda penderá mais, que são o PSB, a Rede, o PSDB, MDB (antigo PMDB) e o NOVO, por exemplo.

Como o PSDB não possui até o momento nenhum nome forte, visto que João Doria vem “derretendo”, assim como Sérgio Moro, que nem mesmo chegou a se filiar a qualquer sigla, a tendência é que a disputa em 2022 fique setorizada entre Bolsonaro vs PT e PDT, e é aí onde os demais partidos serão cruciais, no 2° turno.

É possível que figuras como Sérgio Moro e outro nome ainda a ser definido pelo PSDB entrem na disputa, como o ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa. Todavia, com base nos recentes acontecimentos da pandemia, o crescimento da popularidade de Bolsonaro na região Nordeste e a expectativa de que o país melhore seus índices econômicos e de estrutura até 2022, a chance de outros figurantes ganhar força é muito difícil.

Possivelmente enxergando isso, Ciro já aposta no desgaste de Lula devido aos escândalos de corrupção e deseja agora se apresentar como alternativa mais viável não só da esquerda, como do centro. Em uma entrevista para o Valor Econômico, ele disse que “Lula é o maior corruptor da história moderna brasileira. E não aprendeu nada.”

Conquistar o apoio de petistas frustrados com Lula e esperançosos por renovação é a estratégia de Ciro gomes. Se isso ocorrer, é possível que ele, sim, vá para o 2° turno contra Bolsonaro.

Fora este cenário, se boa parte dos petistas e do centro não apoiar Ciro (ou o contrário, no caso Lula), mantendo-se todos na atual configuração de disputa por protagonismo, a realidade será de fragmentação dos votos da esquerda e do centro, o que poderá dar a vitória para Jair Bolsonaro já no 1° turno.