No último dia 18, o Diário Oficial da União publicou a exoneração do pastor Whashington de Sá do cargo de Diretor de Promoção e Fortalecimento dos Direitos da Criança e do Adolescente da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, setor que integra o Ministério da Mulher, Família e dos Direitos Humanos, comandado por Damares Alves.

A exoneração chamou atenção de algumas figuras do meio político e religioso, por dois motivos específicos. Primeiro, porque Whashington de Sá é um dos principais nomes do Brasil na promoção dos direitos da criança e do adolescente, tema esse de grande interesse de Damares Alves.

Pastor ligado à Igreja Batista da Lagoinha, uma das maiores do país, Whashington é diretor do ministério Infância Protegida, mantido pela mesma igreja. Se trata de um trabalho que compõe a Rede Nacional Infância Protegida, que consiste em uma rede diversificada e multidisciplinar de profissionais e entidades da sociedade civil que desenvolvem ações voltadas para a promoção e a proteção da criança e do adolescente no Brasil.

Segundo, porque o desligamento do pastor Whashington ocorreu sem qualquer comunicado prévio. De acordo com informações obtidas pela matéria com uma fonte que preferiu não se identificar, a exoneração foi articulada por outro líder religioso, chamado Maurício Cunha. 

Cunha já atuava na pasta como Diretor de Programa da Secretaria Nacional de Proteção Global, mas agora teria assumido a Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, até então chefiada pela psicóloga Petrúcia de Melo Andrade, que já foi secretária na gestão da prefeita petista de Contagem-MG, Marília Campos, e já assinou um manifesto em defesa da descriminalização do aborto, segundo O Globo.

É importante destacar que a tal nomeação ainda não foi oficializada, segundo a fonte consultada, mas que Maurício Cunha já estaria atuando nos bastidores como secretário Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, departamento esse que responde à ministra Damares Alves.

Crianças do Ministério Infância Protegida, dirigido pelo pastor Whashington de Sá.

 O Opinião Crítica entrou em contato com a assessoria de comunicação da ministra e a resposta sobre a indicação de Cunha para o novo cargo foi a seguinte:

“Confirmamos a indicação de Maurício José Silva Cunha para o cargo de secretário Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente”. Sobre o motivo da exoneração repentina do pastor Whashington, o comunicado foi “que os cargos em comissão são de livre nomeação e exoneração, não sendo necessária a apresentação de motivação específica”.

Influência da esquerda

O terceiro ponto se trata do que alguns aliados do governo consideram um “flerte” da ministra Damaras Alves com a esquerda política. Na intenção de querer parecer aberta ao diálogo, a ministra estaria cometendo o erro de afastar figuras conservadoras, mais alinhadas com a agenda do governo Bolsonaro, para dar espaço de influência a quem nunca lhe apoiou.

Este seria o caso da promoção de Maurício Cunha, um pastor alinhado com a Teologia da Missão Integral (TMI), vertente teológica que traduz a cosmovisão cristã sob à perspectiva do marxismo histórico.

“O que está acontecendo com a Ministra Damares Alves?”, questionou o pastor e jornalista Carlos Lyra Lins em uma publicação feita no dia 20 de outubro. “Por quê este flerte com a extremaesquerda e trazendo-os para dentro do Governo Bolsonaro? E pior ela traz para dentro do Governo um dos líderes da Missão Integral, a vertente gospel da Teologia da Libertação, um adepto do ‘impeachment foi golpe’, do ‘#elenão’, do #Lulalivre etc.”, completou.

Maurício Cunha e Ariovaldo Ramos
Maurício Cunha é adepto da TMI, a qual tem o pró “Lula-livre” Ariovaldo Ramos como maior nome.

 A publicação de Lyra acompanhou o link de um evento onde Maurício Cunha e o também pastor Ariovaldo Ramos, principal nome da TMI no Brasil, o qual já esteve discursando em favor de Lula-livre diversas vezes desde a sua prisão, no ano passado, em encontros organizados pelos partidários do PT, estiveram juntos para debater o tem “Igreja: instrumento de transformação social”.

Outra figura de influência na política nacional, que também revelou preocupação com às decisões de Damares Alves é a psicóloga e presidente estadual do Avante do Paraná, Marisa Lobo. “É preocupante que apoiadores de DIREITA e Conservadores que apoiaram e apoiam Bolsonaro estejam perdendo espaço para esquerda no Ministério de Direitos Humanos”, observou ela em um texto também publicado por Lyra.

“Penso que a Ministra não tenha conhecimento e, se o tiver, preocupa-me muito mais. Qual seria a intenção de manter esquerdistas na pasta e exonerar companheiro de muitos anos de Direita e Conservadores (sic)? É realmente terrível ter na pasta mais sensível deste governo um cristão evangélico com viés socialista”, criticou Marisa ao se referir à promoção de Maurício Cunha e à saída de Whashington.

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Marisa Lobo e Damares Alves já atuaram juntas em causas comuns.

Também da Igreja Batista da Lagoinha e nome de peso no cenário conservador do país, o pastor Cláudio Godoy, por sua vez, fez uma publicação ressaltando o desafio de Damares Alves, que também é pastora, para lidar com o aparelhamento ideológico em sua pasta, algo impetrado até por pessoas concursadas.

“Damares pisa literalmente em campo minado, todos os dias, cercada de serpentes, muitos funcionários concursados que estão trabalhando para sabotar o governo Bolsonaro”, escreveu o pastor em sua rede social.

Na sequência, Godoy explica que a esquerda não depende das regras democráticas para tentar voltar ao poder, razão pela qual em países controlados pelo regime comunista, como a China e Cuba, não há mais do que um partido. Neste sentido, o pastor diz que existe a intenção de pessoas próximas à ministra de se “infiltrar” no ministério para “implodir” o governo Bolsonaro. 

“Derrubar esse governo é a ordem do dia… Como? Sabotando, se infiltrando, como disse alguém, implodindo o governo… Derrubar Damares é apenas uma batalha dentro dessa guerra, afinal Paulo Guedes é a face Neoliberal, Sergio Moro a Justiça que prendeu o, ‘nove dedos’. A pastora Damares é a face cristã, pentecostal e conservadora…”, observa Godoy, que por fim também condena a indicação de Maurício Cunha para um cargo de chefia.

“Mauricio Cunha, amigo de Ariovaldo Ramos, que promove LULA LIVRE… Ariovaldo Ramos… Bem já sabemos quem é um comunista petista”, frisou o pastor, que conclui fazendo o alerta específico para Damares: “Mesmo que o elemento tenha um bom currículo acadêmico, tecnicamente habilitado para o cargo, se ele é da Missão Integral, se ele anda com Ariovaldo Ramos do Lula Livre, não coloque esse elemento dentro da sua casa… Não existe comunhão entre a Luz e as trevas, cristão que se envolve com marxista vai se dar muito mal”.

Perseguição ideológica?

Ainda segundo a fonte consultada pelo Opinião Crítica, que conhece por experiência os bastidores do Ministério de Direitos Humanos na atual gestão, existe mesmo uma perseguição ideológica velada dentro da pasta, promovida por lideranças associadas à esquerda que ainda dominam postos importantes no setor, e tudo isso debaixo do nariz da ministra Damares Alves.

Tudo teria começado quando na intenção de mostrar para a sociedade a capacidade de diálogo e abertura para pautas de interesse, também, da esquerda, o Ministério decidiu dar espaço para figuras divergentes do presidente Jair Bolsonaro. Neste sentido, em uma tentativa de agradar a “gregos e troianos”, Damares Alves estaria cometendo o erro de ceder cada vez mais espaço aos líderes da esquerda, em vez dos conservadores e direitistas.

Esses erros também se refletem em algumas ideias da ministra. Em 24 de maio desse ano, por exemplo, Damares comentou para o Correio Braziliense a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de criminalizar a “homofobia” no país, afirmando que “é uma prioridade deste governo” combater a violência contra a comunidade LGBT, destacando “principalmente a mulher travesti“, (destaque nosso).

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Damares Alves recebeu ativistas LGBTs. Reprodução: Google

Ora, “mulher travesti”? O autor e mestre em Saúde Pública, Claudemiro Ferreira, conhecido por denunciar o ativismo ideológico do movimento LGBT no Brasil, criticou a declaração da ministra: “Pesquiso esse tema há pelo menos três décadas e esta é a primeira vez em que vejo o termo ‘mulher travesti’”, escreveu ele em sua rede social.

Na prática, a declaração da ministra endossou um dos principais alvos de combate do conservadorismo no país, que é a ideologia de gênero. Provavelmente Damares Alves não fez tal citação com a devida consciência das implicações simbólicas e científicas do termo, mas isso demonstra como a preocupação em demasia de querer parecer “aberta” ao diálogo pode levar a equívocos, desde uma simples fala até à exoneração do pastor Whashington de Sá.

Considerações necessárias

É evidente que sob a gestão de Damares Alves, a pasta de Direitos Humanos já obteve conquistas significativas, como o avanço na proposição do ensino domiciliar, o reconhecimento dos ex-gays – grupo esse antes invisível no Ministério -, o combate ao abuso infantil e à violência contra a mulher, entre outros.

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Damares Alves recebeu um grupo de ex-gays e psicólogos conservadores. Reprodução: Google

Entretanto, tais conquistas podem ser prejudicadas caso a ministra não atente para o avanço da influência esquerdista em sua pasta, especialmente considerando o tempo que ainda resta de governo. O Brasil esteve por décadas sob o controle da esquerda, sofrendo profundas alterações nos âmbitos cultural, acadêmico, científico e político. Aliados defendem que não é a hora de querer “dialogar” com o lado que sempre desprezou o verdadeiro diálogo.

A hora, portanto, seria de reparar os estragos deixados pelas gestões anteriores, e isso exige filtrar cada decisão, indicação, orientação e proposta na pasta, visando o futuro. Tal postura não significa intransigência ou fechamento ao diálogo, mas a priorização do que a maioria da população, conservadora e cristã, sempre quis implementar e não pôde, exatamente porque nunca foi ouvida, mas sim manipulada.

Para tanto, críticas precisam ser feitas mesmo diante dos acertos, custe o que custar, doa em quem doer, porque tomando como exemplo o que ocorreu na Argentina e vem se erguendo no Chile, bastam algumas decisões “politicamente corretas”, mas tecnicamente erradas, para estragar todo o esforço de uma nação.