Vamos colocar as coisas no seu devido lugar? Muitas pessoas ainda não entenderam o motivo das críticas que alguns, como eu, estão fazendo contra o ex-ministro Sérgio Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol. Por causa disso, estão confundindo posicionamentos políticos com judiciais, o que é completamente diferente.

Já escrevi aqui mesmo nesta coluna que não devemos confundir o Moro da Lava Jato com o Moro político. Isso porque, do ponto de vista judicial, ainda que a cerca altura o ex-juiz tenha se deixado levar pela ambição e interesses pessoais em um projeto de poder, isso não invalida todo o seu trabalho de combate à corrupção.

Em outras palavras, criticar o Moro político, hoje, e reconhecer que em dado momento integrantes da Lava Jato passaram a articular um projeto político para o ex-juiz, incluindo a ascensão de Deltan Dallagnol a cargos de maior autoridade, como a Procuradoria-Geral da República (PGR), não significa dizer que Lula é inocente e que a narrativa de “perseguição” da esquerda estava certa.

Significa apenas, dizer que ninguém é perfeito e imune à sedução do poder; das ambições e outros interesses, como a fama e articulações de diversos grupos poderosos, algo do qual os membros da Lava Jato, em particular Sérgio Moro, se tornaram muito suscetíveis devido ao trabalho que vinham fazendo.

Neste sentido, o vídeo elaborado por Kim Paim, recomendado pelo presidente Jair Bolsonaro ontem, mostra uma sequência de fatos contundentes que realmente sugerem ter existido uma articulação política em prol da ascensão de um nome forte que representasse o “combate à corrupção”, e que isto teria exigido a proteção de algumas velhas raposas, como o senador Álvaro Dias.

Não estou fazendo acusações, mas apenas pontuando o que me parece coerente. Neste caso, com base nas informações expostas por Kim Paim, parece coerente que alguns membros da Lava Jato passaram a idealizar um nome para a presidência da República. Alguém que pudesse representar os ideais que eles haviam construído.

Pode ser que essa intenção só tenha passado a existir em dado momento, quando os membros da Lava Jato se deram conta da força que tinham naquela época. Isso pode explicar o fato de Lula ter tido os seus processos e condenações confirmados não apenas por Moro, mas por vários outros juízes (TRF-4), em diferentes instâncias, inclusive com a chancela inicial do Supremo Tribunal Federal (STF).

Ou seja, os escândalos de corrupção revelados pela Lava Jato foram reais. O maior esquema de corrupção da história do Brasil é uma realidade e as inúmeras delações, confissões e os bilhões de reais envolvidos, alguns já devolvidos aos cofres públicos, estão aí para comprovar.

Quem se detém aos fatos, portanto, não pode negar que Lula foi investigado, processado, condenado e preso, assim como boa parte da cúpula do PT, com base em amplas e inúmeras evidências comprobatórias. A decisão do STF de anular essas condenações no âmbito de Curitiba, por questão de competência de foro, não torna o petista inocente.

Agora, é possível que integrantes da Lava Jato, como Moro e Dallagnol, diante do poder e da fama já conquistados, tivessem passado a usar a força-tarefa como instrumento para articulação política, visando cargos de autoridade e eleições futuras, a fim de implementar no Brasil seus próprios projetos político-administrativos?

A resposta é um redondo SIM, e é justamente aqui onde entra a importância do dossiê de Kim Paim, pois ele liga os fatos numa sequência de eventos que torna essa possibilidade praticamente irrefutável. Se esta tese estiver correta, portanto, Bolsonaro foi visto por Moro e Dallagnol apenas como uma “escada”.

Moro teria aceitado ser ministro da Justiça não por apoiar o presidente e concordar com as suas pautas (algo que agora vemos claramente), mas sim porque, desde o começo, teve a intenção de usar o governo para se projetar, a fim de se tornar o nome da Lava Jato dentro do STF ou da presidência da República.

No momento em que Moro se deparou com a personalidade forte de Bolsonaro, e a coragem de jogar na cara do “herói da Lava Jato” toda a sua omissão contra os abusos tirânicos sofridos pela população durante a pandemia, na reunião ministerial do dia 22 de abril de 2020, o ex-juiz parece não ter suportado ver o seu ego ferido, rebaixado e, literalmente, moralmente humilhado pelo chefe da nação.

Com isso, Moro criou uma narrativa contra o presidente (a de interferência na Polícia Federal) para tentar justificar a sua renúncia ao cargo de ministro de forma antecipada, visto que os seus planos foram frustrados. Agora, a pré-candidatura de Moro e Dallagnol só reforçam todas essas suspeitas, motivo pelo qual Bolsonaro fez questão de indicar o vídeo do Kim Paim.

Felizmente, para ser presidente da República (Moro) ou deputado federal (Dallagnol) é preciso muito mais do que ter pauta única. O combate à corrupção é uma prioridade no Brasil, mas há outras formas de corromper uma nação.

Quem é à favor da liberação das drogas, do aborto, da ideologia de gênero, do “passaporte sanitário”, contra o direito ao porte de armas ou à ampla liberdade de expressão, por exemplo, também corrompe o país, pois mina a existência do seu próprio povo por “dentro”, enquanto direito de ser.

Assim como eu, Marisa Lobo, Bolsonaro além de defender e lutar contra a corrupção, também defende os valores cristãos e conservadores. Não usamos máscaras morais para agradar alguns e enganar a outros, omitindo certos temas para focar apenas em outros, como se no Brasil o único problema fosse a corrupção.

Somos o que somos porque a nossa história de militância política prova isso, e quem nos conhece pode nos colocar à prova através dos posicionamentos públicos que já tivemos ao longo dos anos, sobre tudo! Será que Moro e Dallagnol podem dizer o mesmo?