Um “girl suport girl” virou um “primeiro as damas” e todos saíram ganhando. Por diversos motivos – liberdade, economia, agilidade, etc. – meu transporte pessoal é uma moto. Desde que optei por este veículo, percebi que no mundo motociclístico há uma espécie de solidariedade nata. Algo que deveria haver em outros microuniversos.

Se você estiver pilotando e precisar parar num acostamento, imediatamente param dois ou três motociclistas para oferecer algum apoio. Não falo por ser mulher, amigos homens também me relatam este espirito de boa vontade entre aqueles que andam sobre duas rodas. Por isso enfatizo a necessidade dessa cultura ser propagada.

A cidade onde moro é cortada por uma BR. Esta rodovia já faz parte da paisagem local, dificilmente um morador não a tomaria como sendo apenas uma via de acesso ao seu trabalho ou, como no meu caso, à consulta médica. Então começa a história.

Voltando da consulta, avistei uma mulher também numa moto. Numa atitude estranha ela andava devagar e com o alerta ligado. Aproximei-me e perguntei se precisava de ajuda. Não sei se poderia fazer muito, mas sempre é possível oferecer o celular para uma ligação ou mesmo a companhia.

Enquanto me explicava o ocorrido e me tranquilizava dizendo que a situação estava sobre controle, um caminhão, dirigido por um homem, diminuiu atrás de nós e buzinou sinalizando que havia percebido um possível problema. Este caminhão passou a fazer uma espécie de escolta, diminuiu sua velocidade equiparando-se à da mulher e assim permaneceu. Até que ela tomou acesso para uma via local e ele seguiu pela BR.

Esta situação traz a intersecção de dois conceitos que precisam ser revisitados: solidariedade e sociedade patriarcal. Estes conceitos foram distorcidos ao longo do século XX e usados como bandeiras para defender ideais ditatoriais.

Primeiro construiu-se a ideia errada de que solidariedade só se deve aos pares, proposto pelos regimes totalitários, inspirados na ideologia marxista. Hoje, a partir da “nova esquerda”, como R. Scruton costuma chamar, as pessoas acham que só devem solidariedade aos da mesma religião, aos do mesmo partido, aos da mesma cor, aos do mesmo gênero ou orientação sexual. Quando a realidade objetiva mostra exatamente o contrário!

Eu não sei a religião ou em quem aquela mulher votou na última eleição, mas a ajudei porque era uma mulher. E, não, não porque sou feminista, mas exatamente por defender a sociedade patriarcal! E eu só agi enquanto nenhum homem havia assumido o seu papel de direito.

Na sociedade patriarcal, os homens tem o direito de serem fortes, viris, solidários, líderes em tomar iniciativa. Todas estas características, no entanto, lhes são dadas para cumprir uma única tarefa: proteger as mulheres.

Os movimentos feministas deixou os homens bons acomodados e temerosos: limitaram-se a proteger-se, embotando sua virilidade, passando a ter medo de serem denunciados judicialmente ou terem suas reputações assassinadas. 1

Por outro lado, os homens maus continuaram sendo maus e as mulheres que gritam contra a opressão machista são as maiores vítimas desta falsa liberdade requerida.

Há um tempo venho pensando na seguinte tese: a maior parte dos problemas sociais seriam resolvidos se os meninos – e meninas! – entendessem desde cedo o significado de: “primeiro as damas, querido!”. Assim, poderíamos recontar o fato da seguinte forma: uma mulher precisava de ajuda, uma outra se solidariza, mas um homem assume o seu papel social e encerra o problema.

Num exercício imaginativo, teríamos duas mulheres que voltaram para seus lares com mais fé e um homem que voltou para sua esposa e filhos com mais bondade, porque o hábito forma o caráter.