Que o jornalismo no Brasil deixou de ter credibilidade quanto ao dever ético de informar os fatos, a população já está ciente. Mas parece que a revista ISTOÉ está elevando o nível da militância jornalística a outro patamar, que não é só o da manipulação, mas também o da invenção, tendo como cenário da sua criatividade o sequestro no Rio de Janeiro ocorrido na última terça-feira (20).

Após a morte do sequestrador Willian Augusto da Silva, que manteve 39 pessoas reféns dentro de um ônibus na Ponte Rio-Niterói por quatro horas, ameaçando atear fogo no veículo, a revista ISTOÉ publicou um texto – que não chamamos de matéria – afirmando de forma manipulada que todo o ocorrido teria sido “armação”.

Para que o(a) leitor(a) entenda o cúmulo desse absurdo, precisa ler o texto na íntegra como segue abaixo, mas com atenção aos nossos destaques, pois eles são importantes para a compreensão do malabarismo feito pela REDAÇÃO da revista ISTOÉ:

“A esquerda brasileira parece não ter jeito mesmo. Depois não sabem por que figuras ineptas são eleitas para comandar o País. A tese da vez é que a ação do sniper do Bope contra o sequestrador que fez 37 pessoas reféns em um ônibus na Ponte Rio-Niterói foi uma ‘armação’ tal qual a ‘facada’ sofrida por Bolsonaro durante a campanha presidencial. O pior é que o delírio dessa gente é sem remédio, como dizia Gabriel García Márquez”.

O parágrafo acima é tudo o que foi publicado pela ISTOÉ quanto à suposta “tese” de que o sequestro no Rio de Janeiro teria sido uma armação. O título do mini-texto é o seguinte: “Sequestro na Rio-Niterói: falso como facada em Bolsonaro” (aspas originais da ISTOÉ).

Análise: a invencionice da ISTOÉ sobre o sequestro no Rio

O que se percebe logo de início, no mini-texto da ISTOÉ sobre a suposta “tese” de que o sequestro no Rio teria sido armação, é que a revista usa um recurso linguístico para fazer uma afirmação sem qualquer embasamento. Se trata do recurso das aspas (este símbolo: ” ” ).

O responsável por redigir o texto usou o recurso das aspas propositadamente, com a intenção de se isentar da responsabilidade pela afirmação de que o sequestro no Rio de Janeiro teria sido uma “armação”. Para assegurar a sua isenção por tal afirmação, ele vai além e atribui a culpa da fala à “esquerda brasileira” (risos).

O autor (que não assina a o mini-texto) sabe que a função mais utilizada das aspas em um texto é a citação direta de uma fonte. Todavia, ele também sabe que pode ser o emprego de uma ironia. Como não há fonte para sustentar a sua afirmação – visto que a própria revista não fez qualquer citação – na falta dela, o autor espera se valer da ironia para camuflar uma tese que, na verdade, foi inventada por ele mesmo.

Ou seja, a “matéria” da ISTOÉ que atribui à “esquerda brasileira” a acusação de que o sequestro na Ponte Rio-Niterói teria sido uma armação, na verdade, possui todos os indícios de que não passa de uma invenção da própria revista para tentar implantar essa narrativa na mídia, aproveitando a mesma ocasião para atacar o atual governo e reforçar, igualmente, a narrativa de que a tentativa de assassinato do presidente Bolsonaro também teria sido “falsa”.

Confira os prints da matéria abaixo: