Saiu neste fim de semana mais um capítulo da série de mensagens divulgadas pelo site Intercept Brasil, supostamente, envolvendo os integrantes da operação Lava Jato, especificamente seu coordenador Deltan Dallagnol e o atual ministro da Justiça, Sérgio Moro.

Dessa vez, o conta-gotas de mensagens monotemáticas envolveu também a esposa de Deltan Dallagnol, que teria combinado, supostamente, de gerenciar uma empresa de palestras do marido e outro colega da operação, o também procurador Roberson Pozzobon.

A ênfase dada pela grande mídia, assim como pelo próprio Intercept Brasil, acerca das novas mensagens, seria a intenção de Dallagnol em querer lucrar com a visibilidade do seu nome na Lava Jato. Para que o leitor entenda a crítica que faremos a seguir, segue alguns trechos do conteúdo, segundo O Globo.

“Vamos organizar congressos e eventos e lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar nosso networking e visibilidade”, teria dito Dallagnol ao colega. O procurador estaria preocupado com a repercussão das palestras, então para evitar críticas teria pensado em criar um instituto:

“Se fizéssemos algo sem fins lucrativos e pagássemos valores altos de palestras pra nós, escaparíamos das críticas, mas teria que ver o quanto perderíamos em termos monetários”, disse Dallagnol, segundo o Intercept.

“Antes de darmos passos para abrir empresa, teríamos que ter um plano de negócios e ter claras as expectativas em relação a cada um. Para ter plano de negócios, seria bom ver os últimos eventos e preço”, teria dito Dallagnol.

Pelo aplicativo de mensagens, Dallagnol teria dado uma estimativa dos lucros obtidos ao colega em 2018. “As palestras e aulas já tabeladas neste ano estão dando líquido 232k [R$ 232 mil]. Ótimo… 23 aulas/palestras. Dá uma média de 10k [R$ 10 mil] limpo”, disse.

“Se tudo der certo nas palestras, vai entrar ainda uns 100k [R$ 100 mil] limpos até o fim do ano. Total líquido das palestras e livros daria uns 400k [R$ 400 mil]. Total de 40 aulas/palestras. Média de 10k limpo”.

Um material não autenticado

Não é novidade alguma o fato da grande mídia, sendo boa parte notadamente contrária ao governo Bolsonaro e aliada da oposição, dar status de veracidade ao material divulgado pelo Intercept, sem que ele tenha sido autenticado por autoridades independentes, especialistas em perícia digital e outras.

Na sua passagem pela Câmara dos Deputados na semana passada, o editor do Intercept, Glenn Greenwald, deixou claro que o material atribuído aos procuradores da Lava Jato não será entregue para perícia, usando como justificativa o fato de Sérgio Moro ser o ministro da Justiça.

“Não vamos entregar nosso material para perícia antes de publicar, muito menos para a PF controlada por Moro”, disse ele. Ora, o americano está plenamente equivocado, e isso por questão de lógica.

Em primeiro lugar, a Polícia Federal atua de forma independente do ministro da Justiça. Tal independência é assegurada por lei e visa garantir justamente o poder de investigação do órgão. Em segundo, uma vez entregue o material, o fato seria tão notável que obstruir sua investigação seria inviável, visto que não passaria despercebida tal atitude, mas pelo contrário, ela só reforçaria a tese do Intercept.

Em terceiro, entregar o material para perícia não significaria deixar de possuí-lo, muito menos de publicá-lo. Às duas coisas poderiam ser feitas ao mesmo tempo, afinal, cópias servem para isso. Em quarto, nada impede que mais de uma fonte pericial avalie o material. Se o conteúdo é autêntico, de fato, como diz o Intercept, por que não confiar que ele seja averiguado por mais de uma fonte, por exemplo, de países diferentes?

Qual é o único resultado possível de uma perícia que tem como objetivo atestar a veracidade de um material, quando ele realmente é verdadeiro? Ora, confirmar que é verdadeiro! E se isso é verdade, de que forma o Intercept Brasil seria prejudicado? De nenhuma forma! Pelo contrário, se mais de uma fonte pudesse confirmar a autenticidade do material, o Intercept só ganharia credibilidade.

Se na pior das hipóteses as autoridades brasileiras afirmassem que o material é falso, ou manipulado, os autores da denúncia poderiam recorrer a outras fontes, inclusive em outros países, visando contestar a versão brasileira. 

Para Glenn Greenwald, no entanto, é suficiente a análise pericial de jornalistas, diga-se de passagem, que comungam das mesmas ideias do seu grupo. Estamos falando de mídias como o jornal Folha de S. Paulo e a Veja, já conhecidas por sua militância contra o atual governo. Isto sem mencionar os replicadores, como o grupo Globo, parte da Bandeirantes e outros.

Conteúdo editado e erros

O conteúdo divulgado pelo Intercept Brasil é claramente editado. Não se trata da divulgação de prints originais dos celulares dos procuradores, mas de uma reprodução, fato esse já reconhecido pelo próprio Intercept ao assumir o erro de “edição” na divulgação de datas e nomes em outro capítulo dessa novela mexicana.

Isto por si só comprova a manipulação do material, algo inexistente no meio jornalístico sério (onde a publicação dos originais é intacta). Assim, a não disponibilização para perícia, na verdade, demonstra que intenção de Glenn Greenwald é transformar esta série de ataques ao governo brasileiro em um escândalo sustentado por factoides.

A intenção do Intercept Brasil é cansar, literalmente, a imagem dos procuradores da Lava Jato. Vencer os combatentes da corrupção promovida por bandidos como o ex-presidente Lula através da narrativa, manipulação de informações e o poder de influência da mídia vendida aos interesses de uma agenda ideológica.

Periciar o material antes da publicação seria colocar um ponto final nessa tentativa de vencer a Lava Jato pelo discurso. Assim, para garantir que o plano de “desgaste” cumpra seu papel, os autores da denúncia se recusam a periciar o material, mesmo que futuramente a verdade venha à tona e tudo o que fizeram seja revelado como uma farsa.

Ao leitor, cabe saber que forjar áudios com a mesma voz de determinadas pessoas não é uma tarefa impossível no mundo da edição moderna, especialmente quando há um farto material comparativo de palavras originais (a fala de quem se pretende imitar). É justamente por essa razão que a perícia é necessária. Sem ela, tudo se resume ao que diz o denunciante.

E Dallagnol, finalmente, teria errado?

Supondo que o conteúdo das novas mensagens envolvendo Dallagnol seja verdadeiro, mais uma vez o Intercept Brasil não revelaria nada além do que a vida pessoal do procurador, que como qualquer cidadão, possui o direito de investir em outras fontes de renda, inclusive usando sua experiência profissional como base disso.

O que Dallagnol – neste caso o servidor público em geral – não poderia fazer, seria usar a sua atribuição como procurador para obter lucros. Ou seja, atuar em nome do Estado em uma atividade privada. Fora isso, se o que o mesmo faz é organizar palestras, aulas, publicações ou qualquer outra atividade fora do exercício profissional, ele não comete erro algum.

Usar a visibilidade conquistada pela Lava Jato como forma de promover suas palestras é o mesmo que citar sua experiência profissional em um currículo. Não há erro nisso. Pelo contrário, o que existe são méritos e o uso inteligente da mão de obra, desde que em situações distintas: uma como servidor público e a outra como empreendedor. Ponto!