Veio à tona no final da tarde de hoje (14) mais um conjunto de “vazamentos” supostamente de prints de celular contendo mensagens trocadas entre o ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, e a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP).

A própria deputada publicou um vídeo instantes atrás acusando Moro de ter vazado propositadamente o conteúdo, segundo ela, para a rede Globo. “Mais uma vez eu me deparo com uma ligação do grupo Globo”, disse ela.

Segundo a deputada, a ligação foi para ela se “posicionar a respeito de mais um vazamento seletivo do ex-ministro Sérgio Moro, dessa vez algo que não tinha absolutamente nada a ver com o inquérito já aberto”, afirmou Zambelli.

Na sequência a deputada explicou que parte do conteúdo do material, justamente por não ter relevância para o processo, teria sido excluído pelos próprios investigadores. “Inclusive ontem foi aberto todos os prints dentro do depoimento, e várias conversas que não tinham a ver com o inquérito em si foram postas de lado”, disse ela.

Novas mensagens entre Moro e Zambelli

O conteúdo do novo vazamento supostamente feito por Sérgio Moro foi publicado, de fato, por mídias pertencentes ao grupo Globo. A edição do Opinião Crítica analisou o material e constatou que, de fato, ele não traz novos elementos significativos para o inquérito, além dos que já foram divulgados.

O novo material é apenas a íntegra do que já foi divulgado no dia 24 de abril, pela própria Globo, também após a colaboração de Moro para o fornecimento das informações, assim como outras conversas sem relevância alguma em termos processuais para o caso Moro X Bolsonaro.

Veja a reprodução abaixo, comentário nosso ao final:

Carla Zambelli: “Ministro, por favor, me ouça só um pouco”

Sergio Moro: “ola”

Carla Zambelli: “O Sr é muito maior que um cargo”

Carla Zambelli: “O Brasil depende do sr estar no MJ”

Carla Zambelli: “Bolsonaro vai cair se o Sr sair”

Carla Zambelli: “Entendo sua frustração”

Carla Zambelli: “Pelo amor de Deus, me deixe ajudar.”

Carla Zambelli: “Vamos amanhã marcar 07h00 com o PR lá no Alvorada”

Carla Zambelli: “A gente conversa e ele lhe garante a vaga no STF este ano”

Sergio Moro: “Já falei com ele hoje”

Carla Zambelli: “E o Sr fica só para não criarmos esta crise”

Carla Zambelli: “Vcs ganharam sozinhos”

Carla Zambelli: “Vcs 2 são 2 bicudos”

Carla Zambelli: “O Sr é frio e ele é orgulhoso”

Carla Zambelli: “Talvez tendo uma 3a pessoa, a gente consiga resolver”

Carla Zambelli: “Me deixa tentar, pelo amor de Deus”

Carla Zambelli: “Eu lhe acompanho há anos”

Sergio Moro: “Prezada, vamos aguardar.”

Carla Zambelli: “Já fui presa defendendo as suas ideias e ideiais”

Carla Zambelli: “Por favor, ministro, aceite o Ramage”

Carla Zambelli: “É vá em setembro para o STF”

Carla Zambelli: “Eu me comprometo a ajudar”

Carla Zambelli: “A fazer o JB prometer”

Sergio Moro: “Prezada, não estou a venda”

Carla Zambelli: “Ministro, por favor…… milhões de brasileiros vão se desfazer”

Carla Zambelli: “Eu sei”

Carla Zambelli: “POR DEUS EU SEI”

Carla Zambelli: “Sec existe alguém no Brasil que não está a verba é o sr”

Sergio Moro: “Vamos aguardar, já há pessoas conversando lá.”

Carla Zambelli: “Seu lugar é no STF”

Carla Zambelli: “Quem vc quer?”

Carla Zambelli: “O delegado da DEPEN?”

Carla Zambelli: “O PR tbm está irredutível……”

Carla Zambelli: “Ele acha que, constitucionalmente, ele pode indicar”

Zambelli como interlocutora do Planalto?

No dia 23 de abril, Carla Zambelli enviou uma mensagem a Moro informando que estava na sede do Ministério da Justiça. Na sequência, pediu a ele “5 minutos” para uma conversa.

A imprensa opositora ao governo Bolsonaro está retratando o conteúdo a seguir como uma suposta interlocução da deputada em nome do Planalto. Veja abaixo, nosso comentário ao final:

Carla Zambelli: “Tô aqui no MJ”

Carla Zambelli: “No seu andar”

Carla Zambelli: “Por favor, me dá 5 mimutos”

Carla Zambelli: “Por fabpr”

Carla Zambelli: “Deixa só eu falar com vc”

Carla Zambelli: “Estou com o Lucas”

Carla Zambelli: “Deixa eu entrar só 5 minutos”

Carla Zambelli: “O Planalto que pediu, mas estou vindo não como parlamentar”

Carla Zambelli: “Mas como sua admiradora”

Carla Zambelli: “Pelo NasRas”

Carla Zambelli: “Há 6 anos te defendo”

Carla Zambelli: “Me ouve só um pouco”

Carla Zambelli: “Tudo o que os criminosos querem é a sua saída”

Carla Zambelli: “Não dê esse gosto a eles, por favor”

Carla Zambelli: “O Brasil precisa de vc”

Sergio Moro: “Se o PR anular o decreto de exoneração, ok”

Carla Zambelli: “Vou lá tentar falar com ele”

Em outro contexto, em 17 de abril, Zambelli tentou tratar com Sérgio Moro um nome consensual entre ele e o presidente para a chefia da Polícia Federal. Segue a conversa, ao final nosso comentário fazendo uma análise ampla de todo o material:

Carla Zambelli: “Ministro, como usual, vou usar de 100% de sinceridade. O Dr. Valeixo é o homem certo para dirigir a PF? A Erika Marena e o Edu Mauat sempre apontaram coisas sobre as atitudes dele na lava jato. Uma mudança agora seria muito bem vinda. Há a lista tríplice…. a Erika arrebentaria lá na DG…. Os casos da lava jato no Congresso precisam andar. Por favor, faça algo, urgente.”

Sergio Moro: “O Valeixo manteve a prisão do Lula diante da ordem ilegal de soltura do Des. la do RS. Se algo demora da LV no stf não é pela PF mas de outras pessoas.”

Carla Zambelli: “Converse olho no olho com o PR e explique tudo isso….. por favor, Ministro. Pergunte onde ele quer ajudar, abra a comunicação.”

Sergio Moro: “Já foi falado um milhão de vezes”

Carla Zambelli: “Ontem ele me disse que vc era desatmamentista. Acho que vcs tiveram alho recente. E ele não confia no Valeixo…..”

Sergio Moro: “Bem, acho que ele deveria confiar em mim”

Carla Zambelli: “Deveria…….”

Seis dias depois, em 23 de abril, Carla Zambelli volta a tratar do assunto com Moro:

Carla Zambelli: “O PR propôs o seguinte: Já que o Valeixo pediu para sair, deixa o cargo vago por alguma dias. Vocês conversam com calma, se conhecem melhor (que está faltando desde o começo do mandato) e decidem juntos um nome.”

Carla Zambelli: “O que você acha?”

Carla Zambelli: “por favor?”

Sergio Moro: “Carla isso está sendo conversado lá, nao escrever nada, sinto”

Carla Zambelli: “Pode só me responder se o Valeixo realmente pediu demissão?”

Sergio Moro: “Não pediu demissão”

Carla Zambelli: “Se o PR exonerar o Valeixo, o Sr topa conversar para ver um nome que atenda a ambos?”

Carla Zambelli: “Ou seja, a sua permanência depende da permanência do Valeixo?”

Sergio Moro: “Carla, não vou tratar essas questões por escrito. O PR já tem todas as informações”

Carla Zambelli: “Tá bem. Desculpe.”

Comentário do Opinião Crítica:

Seremos objetivos para pouparmos a paciência do leitor diante do que, desde já, consideramos uma tentativa de explorar midiaticamente o processo envolvendo o caso Moro Vs Bolsonaro.

01 – O material não diz respeito ao presidente Jair Bolsonaro, mas tão somente a uma deputada e ao ex-ministro, Sérgio Moro. Às acusações feitas por Moro dizem espeito ao chefe do Executivo e não à Zambelli, o que torna o vazamento desse conteúdo praticamente sem efeito em termos judiciais;

02 – Zambelli deixa claro a todo momento que a sua intenção foi tentar ajudar a resolver uma crise interna, naturalmente buscando conciliar Sérgio Moro com o presidente Bolsonaro. Estranho? Não, pois ambos, Moro e Bolsonaro, são figuras próximas do convívio da parlamentar.

Moro foi padrinho de casamento de Zambelli em 14 de fevereiro desse ano e, como ela mesma disse, o acompanha há anos desde o tempo da sua atuação como militante no movimento “Nas Ruas”.

Bolsonaro, a mesma coisa. Zambelli possui proximidade com o presidente por defendê-lo politicamente, sendo uma das principais apoiadores do governo. É absolutamente natural que um aliado de peso busque essa aproximação visando sanar um dilema entre duas figuras que apoia;

03 – Ao dizer que Bolsonaro poderá “garantir” uma vaga no STF para o ex-ministro, Zambelli fala o óbvio! Não há crime, nem indício do mesmo nessa fala, pois a competência pela indicação ao Supremo é, de fato, do presidente. 

O ato suspeito nesse caso estaria configurado se a vaga fosse fruto de uma negociação ilegal, tal como seria se Bolsonaro ofertasse a indicação em troca de uma cobertura jurídica ou algo do tipo, perante uma investigação em curso.

Entretanto, em nenhum momento isso fica caracterizado ao longo do diálogo e nem mesmo há qualquer investigação em curso envolvendo o presidente ou os seus filhos no âmbito da Polícia Federal.

Por outro lado, a fala de Zambelli sobre a possível indicação de Moro ao STF reforça, isto sim, à acusação feita por Bolsonaro de que o ex-ministro teria condicionado a sua permanência no cargo à sua indicação ao STF ainda este ano.

Moro, por sinal, como quem já estivesse premeditando a utilização dos prints de celular em uma acusação futura contra o presidente, por duas vezes afirmou à Zambelli que não falaria por escrito. “Carla, não vou tratar essas questões por escrito”, disse ele.

Observa-se ainda que o ex-ministro em nenhum momento fez uma recusa explícita à possível indicação ao STF, reservando-se apenas a dizer que “não está à venda”, após várias trocas de mensagens, indicando que ele possivelmente assim escreveu já tendo previsto a utilização do material para efeitos midiáticos.

Conclusão

Juridicamente o material não tem robustez criminal, e isto fica ainda mais constatado pelo fato de que Moro, supostamente, optou por vazar todo o conteúdo para nada menos que a Rede Globo, indicando que a sua intenção, é, à revelia da Justiça, provocar midiatismo, especulação e desgaste contra o governo.

Se o ex-ministro estivesse seguro da materialidade das suas acusações, daria por satisfeito com o curso da investigação, ciente de que o resultado final estaria a seu favor. Ao optar por polemizar diante das mídias, Moro “confessa” que sairá fracassado desse embate e que tudo o que lhe restará ao final será o apoio da mídia oposicionista e dos especuladores políticos.

Moralmente falando, Sérgio Moro, por mais espantoso que pareça, parece estar agindo contra a própria biografia.