Em 2016, durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o então deputado federal Jean Wyllys cuspiu na “cara” do também deputado, na época o atual presidente Jair Bolsonaro.

O ato de agressão literalmente imoral, dentro do Congresso Nacional e em rede televisiva para todo o país, em vez de ser repudiado severamente foi aclamado por grande parte da imprensa e setores ligados à esquerda como um gesto de “resistência” ante aos supostos “golpistas”.

Não demorou muito – não por coincidência no mesmo ano – o ator José de Abreu repetiu o gesto primitivo contra clientes de um restaurante que criticaram o seu apoio à esquerda. “Vota no PT e vem comer no japonês!”, teria dito um casal de clientes.

O ator, por sua vez, cuspiu no rosto deles e depois postou uma mensagem em sua rede social em tom de orgulho pela agressão: ”Acabei de ser ofendido num restaurante paulista. Cuspi na cara do coxinha e da mulher dele! Não reagiu! Covarde. Advogado carioca…”, escreveu o ator, segundo o Estado de Minas.

Em ambos os casos, de um lado um deputado e do outro um ator renomado. Houve algum alvoroço da mídia? Notas de repúdio? Nada? Coisa nenhuma!

Por outro lado, declarações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro em tom de deboche, piada e talvez até de ofensa, se tornam motivos de tempestade política e midiática em questão de minutos. Antes que o leitor pense que é por se tratar de um chefe de Estado, lembramos que isso já existia muito antes do resultado das eleições em 2018.

No caso mais recente, no entanto, Bolsonaro fez uma piada de teor sexual baseado em um depoimento dado na CPI das “Fake News”, onde Hans River do Nascimento, ex-funcionário da empresa de marketing digital Yacows, afirmou que a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo, se “insinuou” para ele para obter informações.

“Ela (repórter) queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim”, declarou o presidente, utilizando o famoso jargão jornalístico “furo” para se referir à reportagens de grande importância e repercussão. Foi uma piada? Sim. De mau gosto? Sim também. Ofensiva? Literalmente, não, mas eticamente sim. É motivo de tempestade? Vejamos…

Dois pesos, duas medidas

A estupidez cometida por gente da esquerda e da direita não muda. Isto é, a natureza é a mesma quando se trata de um erro. Quer sejam declarações inapropriadas para um presidente, ou incitações ao assassinato, ódio e violência contra o próprio Bolsonaro (veja aqui), largamente produzidas nos discursos de líderes esquerdistas em eventos espalhados pelo país.

O que está patente aqui não é o erro cometido pelos dois lados, mas a hipocrisia de um, neste caso a esquerda, em querer condenar por muito menos pessoas e desafetos, quando o seu próprio reduto está totalmente contaminado pelo ódio e por atitudes iguais ou piores em termos de moralidade e prática política. Ou será que cuspir em alguém é menos grave do que uma piada de mau gosto?