Não dá para classificar este fato de outra maneira, senão de miserável, repugnante, desumano e imoral. Ao noticiar ao vivo em um programa de TV que a filha de uma mãe havia sido assassinada, o repórter da TV Record Luiz Bacci cometeu uma agressão frontal a todos os princípios básicos de humanidade e respeito ao próximo diante de uma tragédia.

Apresentando o “Cidade Alerta” de Brasília, o apresentador estava cobrindo o desaparecimento de Marcela, 21, que estava grávida, quando na segunda (17) ele entrou ao vivo para falar com Andrea, mãe da jovem, que até então não sabia sobre o desfecho do caso.

“A senhora quer mesmo saber as novidades?”, afirmou Bacci, antes de passar a palavra para o advogado do namorado de Marcela, suspeito de ter cometido algum crime contra ela. “Vou precisar que a senhora seja muito forte porque ele vai falar com a gente ao vivo”, destacou o apresentador, sugerindo que já havia o conhecimento da notícia.

Ao dizer que o seu cliente havia confessado que tinha matado Marcela, a mãe dela que ouvia tudo do outro lado da linha entrou em desespero, gritando e passando mal em seguida. Ela precisou ser carregada pela equipe que estava fazendo a gravação.

Crueldade premeditada

Após esse fato repugnante, o próprio Luiz Bacci tentou se justificar em um comunicado através das redes sociais, sem reconhecer qualquer erro da sua parte ou da produção. Observe:

“A família já sabia que o rapaz já tinha se entregado, então portanto, ficou no ar o que ele realmente disse para a polícia. Ele acabou contanto pra gente e a mãe ouviu e passou mal. Qualquer parente de desaparecido especialmente uma mãe não conseguiria controlar a emoção nesse caso”, disse ele, segundo a Caras.

“Assim que ela soube da notícia e não teve mais condições de continuar essa entrevista, nós cortamos as imagens. É uma cena que machucou a gente demais, por mais que a gente esteja acostumado com essas notícias boas e ruins”, completou.

Os argumentos de Bacci não convencem. Pelo contrário! Eles pioram ainda mais a situação moral do apresentador e da produção do seu programa. Mesmo sabendo sobre a entrega do namorado, os familiares e, principalmente, a mãe (a figura mais importante nesse contexto), não esperavam receber tal notícia.

Qualquer pessoa em situação de desespero, ansiosa por respostas e notícias sobre o paradeiro de quem ama, aceitaria falar com uma reportagem que lhe diz haver “novidades”. Os familiares e em especial à mãe foram vítimas, pasmem, de exploração comercial por parte da produção do programa Cidade Alerta.

Uma vez que a equipe do programa muito provavelmente já sabia qual seria a notícia, eles prepararam o cenário da gravação, esperando capturar e registrar ao vivo o momento mais terrível que uma mãe poderia vivenciar a sua vida, que é a notícia do assassinato de um filho. Tudo indica que o acontecimento foi premeditado e preparado especificamente em função do apelo comercial por audiência!

A responsabilidade moral e ética da equipe de TV, diante do possível conhecimento prévio do assassinato de Marcela, em respeito à mãe, aos familiares e aos princípios humanos básicos de preservação da imagem alheia diante da dor, seria comunicar o fato de forma adequada para os familiares antes que o programa viesse ao ar.

Se por acaso a mãe de Marcela, uma vez já ciente do desfecho do caso, ainda assim quisesse falar ao vivo, a história seria outra. O respeito à sua dor teria sido preservado e a opção de externar isso diante das câmeras seria dela. Mas o que ocorreu, em vez disso, foi literalmente uma armação em nome de audiência, e nada mais!

Obs.: Em respeito à sra. Andrea não reproduziremos o vídeo lastimável do Cidade Alerta.