Glenn Greenwald, principal figura por traz do que ficou conhecido como “Vaza Jato” no país, uma série de reportagens publicadas pelo site Intercept Brasil com base em mensagens roubadas de integrantes da operação Lava Jato, em 2019, concedeu uma entrevista onde dessa vez faz críticas contundentes ao modo de atuação da esquerda no país.

O ponto chave da questão está na defesa da liberdade de expressão, algo que para o jornalista americano e ativista LGBT que vive no Brasil há 16 anos na companhia do deputado David Miranda (PSOL), com quem mantém união estável, diverse do seu ponto de vista.

“Essa é uma das minhas maiores discordâncias com a esquerda, provavelmente a maior. Essa coisa de a esquerda ter se tornado o movimento político que acredita em censura, em policiamento do discurso, em proibir e banir ideias de que não gostam, em expulsar pessoas da Internet – que deveria ser livre do controle de empresas e do governo. Acredito que essa seja uma grande diferença cultural entre os Estados Unidos e o Brasil”, disse ele.

David, visto com ódio por muitos lavajatistas e também muitos bolsonaristas, possui uma bandeira que pode ser considerada um ponto comum entre os verdadeiros defensores da democracia e liberdade de pensamento: ele defende que até mesmo radicais como supremacistas brancos tenham direito a se expressar!

Falando da diferença da esquerda americana para a brasileira, Gleen disse que em seu país natal a defesa da liberdade de expressão foi protagonizada principalmente pela esquerda.

“A organização que mais agiu para defender a liberdade de expressão defendia até mesmo nazistas e supremacistas brancos. Essa organização era a ACLU [American Civil Liberties Union], composta quase que totalmente por advogados esquerdistas”, disse ele.

O próprio jornalista disse já ter atuado em causas, como advogado, em defesa  de “supremacistas brancos e também extremistas de esquerda”. Para ele, a verdadeira liberdade de expressão inclui a liberdade de dizer o que se pensa sem sofrer censura, algo que deve ser garantido a todos.

A milícia virtual extremista Sleeping Giants Brasil, por exemplo, que promove a censura de veículos conservadores e outros considerados propagadores de “fake news”, também foi condenada por Gleen.

“Acho que no Brasil sempre houve essa ideia de que a liberdade de expressão deveria ser restrita, de que o discurso de ódio deveria ser contido. Não concordo com isso. Não confio em nenhuma autoridade que tenha poder para determinar quais ideias podem ou não ser expressas”, disse ele para a Gazeta do Povo.

“Acho que é muito perigoso dar ao Facebook ou ao Judiciário o poder de determinar o que é verdade e o que é mentira (…). É perigoso tirar bolsonaristas das redes sociais, obrigar Twitter e Facebook a silenciá-los, prendê-los por suas opiniões. Essa é definitivamente uma grande diferença que tenho com a esquerda”, destacou.

Sobre a acusação de que Bolsonaro seria um “genocida”, Gleen também discorda, pois disse que intelectualmente reconhece a diferença entre críticas políticas e acusações falsas por mero teor ofensivo. “Um dos motivos para eu ser contrário a essa abordagem é que ela é desonesta”, disse ele.

Glenn explicou que nos EUA ocorreu a mesma coisa com Donal Trump, por exemplo, ao ser comparado a Hitler. “Trump não é um Hitler. E acho que é ofensivo usar o Holocausto e Hitler para se referir a alguém que não é, de forma alguma, capaz de tentar fazer o que fez de Hitler um ser tão unicamente mau, como matar milhões de pessoas por causa da sua raça e religião”, disse ele.

A declaração do jornalista foi em resposta a uma pergunta se concordaria com a rotulação de “genocida” sobre Bolsonaro. “Intelectualmente eu considero isso ofensivo, historicamente eu considero isso ofensivo. E também acho que é estúpido. Porque quando você usa retórica extremista, as pessoas perdem a confiança no que você está dizendo”, disse ele.

“No Brasil o que acontece é algo bastante semelhante. Se você é de esquerda, não basta dizer que acha que Bolsonaro gerencia muito mal a pandemia e que, por isso, pessoas morrem. É nisso que acredito. Não basta dizer que ele preferiu crescimento econômico e defender sua popularidade política a proteger a vida das pessoas. Acho que essa também é uma crítica válida. Mas chamá-lo de genocida, como se houvesse um ato intencional de pôr fim à vida de um grupo por causa de sua raça, etnicidade ou religião, o que seria um genocídio de verdade, é errado. Não serei coagido a dizer algo que não é verdade”, conclui.